Isoldinha era um doce-de-coco. Tímida, coitada, mas uma gracinha. Sempre com uma postura humilde, olhos voltados pro chão, mas sempre disposta a ajudar. Cuidava das tarefas do lar para a mãe. Ajudava nas contas do pai. Passeava com os cachorros do tio e estudava com os filhos do vizinho. Se alguém do bairro precisasse de um favor, não perdia tempo a procurar: Isoldinha era a solução.
Numa dessas necessidades, Isoldinha arrumou um pretendente. O seu Helvécio da quitanda. Esfuziante, animado e irreverente, o novo funcionário do seu João logo precisou de ajuda para tocar sua mudança pro bairro. E foi assim que conheceu aquele anjo em forma de mulher. Como era doce aquela menina! Tão prestativa… Perfeita para casar! E, assim, os dois começaram a namorar.
Isoldinha continuava ajudando a vizinhança, mas agora já não tinha tanto tempo. Um dia deixou de passear com os cachorros. No outro, esqueceu de estudar para prova com os filhos do vizinho. Mas a gota d’água foi quando Isoldinha não compareceu à mesa do jantar, para ajudar o pai nas suas contas. Era preciso fazer alguma coisa.
Então seu Demétrio convidou Helvécio para jantar. E perguntou quais eram suas intenções com sua Isoldinha. O quitandeiro gaguejou, enrubesceu, mas, no fim, não teve medo: o negócio era sério. Coisa pra casamento. E o matrimônio foi marcado para dali a noventa dias.
Isoldinha estava ansiosíssima. Como era de praxe naquela época, nunca tinha ficado pelada diante de um homem. Transar então nem pensar! No máximo, tinha trocado uns beijinhos melados. E deixara Helvécio passar suas mãos por suas carnes magrelinhas.
O bairro todo comemorou o noivado. E todos fizeram questão de ajudar nos preparativos para a festa. De tanto que Isoldinha ajudava os vizinhos, agora era a hora de ser retribuída.
Enfim, chegou o grande dia. E passados os festejos, a virginal Isoldinha estava finalmente a sós com seu maridinho. Envergonhada, se trancou no banheiro, e rapidamente botou a camisola da noite de núpcias. Toda branca, transparente. “Que indecência!”, pensou a noiva, nervosa. “Por que fui deixar o enxoval a cargo daquela vizinha saidinha?” Mas agora não havia escapatória. Teria que encarar Helvécio.
Pediu pro noivo apagar as luzes, abriu a porta e correu pra cama. E se ajeitou com pressa, debaixo dos lençóis. Helvécio foi carinhoso e paciente e o ato se consumou. Fora as dores daquela hora, não sentiu nada, um imenso nada.
Helvécio percebeu o desapontamento da noivinha e na mesma hora pôs-se a se desculpar. Pediu perdão pela sua pressa, lhe fez carinhos, pôs-se até a chorar. E então Isoldinha mudou de humor. Estava gostando daquela história. Esqueceu seu jeito sempre humilde, alteou sua voz, pôs-se mesmo a gritar. “Então é isso que fazes com sua esposa? Não tens vergonha do que andou fazendo?” Helvécio a encarava, olhar assustado. “Pede desculpas. Anda. Mas de joelhos. Isso. Agora rasteja, beija meus pés. Talvez assim, eu te perdoe. Vai. Cachorrinho. Lambe, vai. Lambe meus dedos…” Isoldinha não conseguia mais parar. E a cada consentimento do marido, ia ficando mais excitada. “Isoldinha boazinha, uma ova! Aqui na cama eu sou sua dona. E você é meu escravo.” E assim continuou, madrugada adentro.
No dia seguinte à noite de núpcias, Isoldinha voltara a ser a garota humilde, envergonhada. A eterna amiga de tudo e todos. Mas quando chegava a noite, se transformava, sem ninguém saber, é claro. Só Helvécio. E é por isso que ninguém entendia. Depois que casara, aquela menina continuava tímida, mas agora não mais desviava o olhar. E tinha um brilho tão estranho… No entanto, inexplicável mesmo era o comportamento de seu marido. Helvécio agora não mais brincava, virara um homem sério, macambúzio. E vivia na barra da saia de Isoldinha. Nem parecia o homem da relação. Estranho, muito estranho…