É preciso retirar o suicídio da lista de tabus para debatê-lo sem medo e com profundidade. Ao sepultar o suicida sem submetê-lo à autópsia para não se imiscuir muito na causa mortis. Hoje rapidamente se providencia a cremação para não vir à tona se havia algum problema de saúde insanável. De que adianta investigar os motivos que levaram o suicida a se retirar da vida se ele já está morto e não cabe à justiça terrena julgá-lo? Nem procurar um defensor que justifique o gesto dos que entregaram os pontos e perderam essa grande oportunidade que é viver, geralmente escondendo seus propósitos para ter desistido. Raros são os que anunciam com antecedência, tamanha a convulsão em seu estado de espírito. Alguns vão deixando pegadas à medida que se aproximam de seu destino irreversível, como Walmor Chagas. Manifestou o desejo de partir mais cedo se o seu estado de saúde se mostrasse precário. Não queria dar trabalho a quem quer que seja. Foi perdendo o gosto por comer, alegando problemas no estômago que dificultavam a alimentação. Reclamando da catarata que o impedia de ler. Nada que não pudesse tratar ou ser mais comedido na escolha do cardápio. Dizia que só pode ser louco quem acha que a velhice é a melhor idade. Preferiu morrer antes a ser homenageado com o maior prêmio do teatro pelo conjunto da obra ao longo de 64 anos. Um ator que fazia qualquer papel pequeno parecer grande. Preferiu sair de cena consumido por um fastio da mediocridade geral que campeia aqui e acolá, vítima da superficialidade televisiva que invade o teatro brasileiro, o que tirou seu espaço da cenografia clássica e ajudou a ceifar sua vida.