Sabe aqueles e-mails que os amigos nos encaminham, com arquivos de powerpoint anexados? Aqueles com mensagens bonitas, músicas bregas e imagens óbvias, que a gente só consegue ler depois de ficar clicando na setinha do teclado? Sim, eu leio esses slides! Quando nos dedicamos a ler como esporte, encontramos coisas boas até nessas irritantes correntes que nos caem no colo insistentemente a mando dos amigos. Pois bem. Noutro dia, depois de clicar frenéticas vezes na setinha para acelerar a chegada das palavras, que insistem em pipocar na tela com a maior calma do mundo, consegui me emocionar ao ler uma dessas mensagens, intitulada “O Filho”. Mas a sedução barata me fisgou por pouco tempo. E, depois de contar o que dizia a tal mensagem, lhe explicarei o porquê do meu desencantamento. Ou seria lucidez? Bom, é melhor narrar logo os detalhes dessa história para que você possa julgar por conta própria.
A tal mensagem, “O Filho”, resumidamente, contava uma história bonitinha e emocionante, para convencer que quem ama verdadeiramente o próprio filho é um abençoado e, no caso dessa mensagem, o rapaz que amava o filho alheio era tão abençoado que ficava com uma baita herança material. Depois do final surpreendente, a mensagem ainda pega carona na historinha para pregar que Deus, ou Jesus, sei lá, nos ama a todos, porque somos seus filhos. Mas então eu explico por que o conceito de religiosidade aí não me desceu muito bem. Tudo por causa de um comentário da pessoa que me enviou essa mensagem sobre sua nora. Uma fala que me provou que nem sempre as pessoas sabem ler a verdadeira mensagem cristã. E é exatamente por isso que eu brigo tanto com a religião e a fé alheia.
Tenho certeza de que a tal fulana se emocionou bastante ao ler a história do powerpoint e lhe sou muito grata por ela ter me enviado a interessante mensagem. No entanto, levei um baita susto ao ouvi-la falar assim: “Vou ser muito sincera. Você sabe por que eu gosto da minha nora? Porque ela faz o meu filho feliz.” Aquilo ficou na minha cabeça, mas eu não falei nada; afinal, não posso me meter no sentimento alheio. Porém, a julgar pelo que já aconteceu com o coração dessa sogra a respeito de outra mulher que foi sua nora durante longos 15 anos, posso afirmar com certeza: ela realmente estava sendo sincera. Só ama pessoas que convivem com ela tão intimamente por tanto tempo enquanto aquelas pessoas estiverem lhe fazendo o favor de tratarem direito seus bens mais preciosos: os filhos. Se, por acaso, algo acontecer e a nora não puder mais corresponder ao amor de seu filho, imediatamente vira vilã, persona non grata. Então, é aí que entra minha humilde tese. O verdadeiro cristão não é aquele que ama o próprio filho. Isso é fácil. Ser cristão mesmo é amar, desinteressadamente, o filho alheio, e amá-lo pelo que ele é. Sabendo reconhecer nele as qualidades, até quando, eventualmente, e sem querer, ele tenha nos feito mal. Isso sim é amor cristão. O resto é hipocrisia.
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