Peça de teatro dirigida por Silvio Tendler, também cineasta e brilhante como documentarista. Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, dois revolucionários comunistas até a alma, ela no campo de concentração de Ravensbrück, deportada por Getúlio Vargas, e ele como preso incomunicável, impedido de ler na masmorra, mas a peça se concentra no lado humano e na filha Anita Leocádia, separada da mãe com 14 meses de idade, aos cuidados da avó paterna. Nunca mais Olga e Prestes conversaram entre si quando foram detidos pela polícia, em março de 1936, na sequência da Intentona Comunista em novembro de 1935. Nem mesmo através da correspondência que, com o tempo, se transformou em monólogo, em razão de jamais chegar ao correspondente. Os nazistas exigiam que Olga escrevesse em alemão para facilitar a censura. Mesmo com as cartas não mencionando nada de revelador, mas a paranoia incita a encontrar chifre em cabeça de cavalo. Prestes se desesperava, pedindo para Olga lhe escrever. Olga só podia imaginar a filha crescendo, a cada vez que era submetida a torturas pelos carrascos nazistas. Depois que Olga foi assassinada na câmara de gás em 1942 e a União Soviética expulsou os alemães de Stalingrado, Prestes passou a receber notícias de sua filha, só vindo a conhecê-la em 1945, quando foi solto. Dificilmente vamos encontrar um casal tão unido no século XX, embora apartados pelo destino quase o tempo todo por circunstâncias inteiramente políticas.