Ao despencar abismo abaixo e desembarcar do trem que seu pai pretendia retomar do Maranhão a Brasília, Roseana Sarney nos tirou o gostinho de uma aula de História que passasse verdadeiramente a limpo o Brasil, de forma engrandecedora, esclarecedora e instrutiva sobre se o fim das oligarquias deve ficar a cargo do Ministério Público ou o povo deve se incorporar à faxina de armas e bagagens. Pois que até Caetano Veloso se engana e glorifica o presidente em sua missão de perseguir e prender coronéis políticos.
Confronto que a História nos privou ao arrepio da lei utilizada pelos tucanos com medo do atraso de que se serviram e, portanto, cevaram, pudesse engoli-los. O rigor da lei para quem sonhou com o Brasil despertando como se fosse um Maranhão. Como o país ainda não é politicamente correto, éticos oram a Deus, num hosana imenso, para que se encarregue de desencarnar esses coronéis patriotas, se esquecendo de que o Ministério Público funciona até no Tocantins, qualquer denúncia será aceita com banda de música. Seu lema “ajoelhou, tem que rezar” mereceu um bruto reconhecimento de ACM diante do procurador-jesuíta Luiz Francisco, claramente confesso em sua renúncia ao Senado.
Se o irmão de Jorge Murad já é cantado em verso e prosa como o Pedro Collor dos Sarney na literatura de cordel da terra de Ferreira Gular, se a polícia se vale do disque-denúncia por ser mais cômodo e rápido do que a tecnologia de perícias e exames técnicos, pela mesma linha de raciocínio simplista, por que não fazer uma pesquisa de mercado dentre as estrelas do PFL e desenvolver uma campanha publicitária na TV em cima do primeiro colocado? Para ganhar espaço político e barganhar um vice à altura de Marco Maciel.
Só que Roseana, a eleita, superou as expectativas, graças ao marqueteiro Nizan, que a fez mulher, em resposta ao que o mercado exigia para dirigir os nossos destinos. Chega de homem, eles não merecem mais confiança, mentem muito. Comportar-se em todas as circunstâncias como homem de bem não modifica o seu destino de perecer entre tantos de caráter duvidoso, arruína-se quem quiser ser bom entre os maus – o catecismo de sua religião.
Foi o fim de uma aventura, um remake do filme de Collor, fantasma shakespeariano que irá nos perseguir por um bom tempo, inconformado com sua expulsão do Paraíso. O PFL acreditou no Sarney, que ficou sem pai nem mãe, sem candidato. A ver navios, ACM e Bornhausen ficaram órfãos do poder, furiosos com o arrivismo de Murad, o mais novo anoréxico da praça.
Como Sarney e Maluf dispõem de um eleitorado que não abre mão de sua esperteza, ficou-se sem saber se seria aplicado o mesmo remédio adotado em São Paulo no 2º turno, o de evitar o mal maior cravando a ferradura no outro candidato. Ou se bastaria o banho de loja e a cara bem-comportada de Lula abraçado à estrela, dentro do novo perfil que Duda embalou o produto PT.
Não se fazem mais golpes de Estado como nos tempos que Sarney, Maluf e ACM deram seu sangue para evitar o mal maior e impedir que o comunismo confiscasse fazendas produtivas. A Venezuela desmoralizou o golpe de Estado numa América Latina manchada por golpismo, ouviu-se a voz do povo que reconduziu o “sargento” Chávez ao poder em detrimento de um civil de plantão que fechou o Congresso e o Judiciário, mancomunado com a elite que enriqueceu com o petróleo e não industrializou o país.
Olha só o que perdemos. Impeachment antes das eleições. A lista de doadores do naipe de uma turma de biriba deixou no chinelo o milhão achado debaixo do colchão da Lunus. Acreditam que na política não é obrigatório ser sincero, leal, humanitário, ter compaixão, mas é fundamental que aparente isso tudo. Batem na mesma tecla de que o eleitor julga mais com os olhos do que com discernimento, mais com o coração do que com a razão, pois o amor tem razões que a própria razão desconhece, importando não se deixar aprisionar em nenhuma camisa-de-força.
As eleições excitam os donos do poder e seus acólitos ao se debruçarem sobre estratégias de como conquistar o poder e de como mantê-lo. Ao se elegerem, se tornam todo-poderosos, seguros, respeitáveis e felizes, a um passo da eternidade. Como se julgam que vêem mais longe e são mais espertos, agem sempre com oportunismo para salvarem-se das enrascadas em que se metem.
O panorama visto da ponte pelo eleitor nerd, descamisado ou que ignora o que afinal está acontecendo é o mesmo do garoto Alex de 11 anos. Dormindo no banco traseiro da van que rodopiou na Ponte Rio-Niterói, se viu lançado de uma altura equivalente a 11 andares e afundou 5 metros ao se chocar com o mar. Veio à tona sem saber nadar e bebendo muita água. Quis se agarrar à bóia de sinalização, mas a correnteza o arrastou. Acudido pelos marinheiros da Base Naval, grato foi à graça divina e à sua religião, só Jesus nos salva, garantem os evangélicos.
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