As chuvas de Teresópolis. Sexta-feira à noite. As frias águas de um rio que margeia a casa de um aposentado avolumaram-se, acabando por romper o muro de contenção e inundando sua casa em questão de segundos. Felizmente, só se elevaram até alcançar o nível da cintura do aposentado e de sua esposa. Caso contrário, teriam ficado submersos e se afogariam sem poder se despedir da vida. Sem a menor contemplação. No momento fatídico, ambos discordaram se deviam manter-se abrigados dentro de casa com as águas subindo ou se procuravam a rua para serem arrastados pelas corredeiras que ganharam o asfalto. O vizinho chegou a lançar-lhes uma corda a título de salvar suas vidas. Aí é que Deus entra para nos proporcionar uma chance a mais nessa maravilha que é estar vivo, embora há quem torça o nariz e cuspa marimbondos. No dia seguinte, se organizou um mutirão diante da perspectiva da perda total de todo o conteúdo de uma casa, com móveis, armários e sofás boiando no seu interior, com o carro afundado na lama que, por sinal, invadiu e tomou conta da casa toda. Sendo necessário lavar os estofados, o mobiliário, roupas e utensílios em geral. Uma ou outra amizade rompida foi refeita perante a catástrofe, quando se agregaram ao mutirão. Em contraste com o mundo desabando sobre sua cabeça, é de causar vergonha olhar para desafetos, briguinhas ou inimizades que foram se acumulando, à medida que o aposentado foi se isolando. Resta saber o que acontecerá ao dono da casa, que já tinha entregado os pontos antes do infortúnio, fumando e bebendo muito face à falta de perspectiva. A ponto de evitar a figura do médico. Se vai morrer mesmo, para que se tratar? Vamos aguardar os efeitos das chuvas de Teresópolis.
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