O juiz Moro conseguiu a façanha, em sendo apenas juiz de primeira instância, de manter o Supremo Tribunal Federal de mãos atadas e de boca calada no tocante ao uso abusivo das delações, em que ele condena ou não investiga, segundo seu livre-arbítrio, e a prender por quanto tempo lhe convier para arrancar confissões como se fosse um mero torturador e não um magistrado. Como se exercesse um poder independente e impermeável a qualquer controle do Judiciário que, por acaso, pensasse em impor limites às suas arbitrariedades de prender Lula a todo custo e desbaratar o PT, numa cruzada própria, já que a figura do juiz é inatacável e não pode ser desmoralizada, ainda mais por granjear a fama de maior autoridade em exercício em matéria de lavagem de dinheiro. Salvo se ficar provado que o juiz Moro abusa de sua autoridade. E, no caso, demonstrado seu partidarismo como artífice de uma conspirata que reuniria partidos afinados com a solução final, as cinco famílias que controlam a mídia no Brasil e certos setores do Judiciário perfeitamente identificados com a nova política de sustar o processo de resgate da cidadania das camadas mais pobres com a retirada de direitos trabalhistas, e dificultando o seu acesso a programas sociais. Se mandam no Brasil, inspirados pelo golpe, quem estaria habilitado a investigá-los por abuso da democracia? Somente o veredicto popular. Mas ainda não cabe convocar novas eleições enquanto Moro não fizer o serviço completo para afundar o que ainda resta do inimigo a ser vencido para o resultado no pleito ficar garantido, tal como ocorreu nas eleições municipais. Por isso se deve destacar a sagacidade com que o juiz Sérgio Moro rege a Operação Lava-Jato, instalando um miniestado de exceção bem ao gosto de certos atores desta farsa familiarizados com o autoritarismo, não é de hoje. Além de obrigar a todos que se aliaram em torno dele a comer em suas mãos, senão um dia ele poderá abrir a boca e contar tudo – Eduardo Cunha fazendo escola. Hoje Moro sabe de todos os podres da classe política e da mídia, quando ela demanda vazamentos sob medida. Claro que não precisará chegar a esse ponto, mas quem almeja ser o presidente de um país, que regrediu à condição de província com suas oligarquias voltando à cena ao promover o golpe, carece de estar preparado para lidar com coronéis, chantagistas, corruptores, lobistas, juízes que vendem sentenças, exploradores do trabalho escravo e da fé alheia. Mas Moro sabe o que faz e já perdeu a virgindade de há muito. Não pode mais apelar para a inocência. Só desconhece que é um caminho sem volta e que pode ser abatido profissionalmente numa emboscada, em futuro próximo, quando quiserem descartá-lo, se mordido pela mosca azul ao pretender entrar no ramo dos negócios da política.
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