No século XVI, Henrique VIII instituiu o divórcio, em causa própria: sob a desculpa de que precisava de um filho varão, trocava de mulher ao deus-dará. Rompeu com o Papa, que até hoje defende o felizes para sempre, em meio à orgia incontrolável de esposos e esposas não conseguindo se satisfazer. Se os reis já não se davam ao respeito e passavam na cara a criadagem da nobreza, quando não se acasalavam e procriavam com damas de companhia.
Ana Bolena se familiarizou com a cultura e etiqueta da corte francesa, quando seu pai para lá a mandou, a fim de servir de aia. Experiência que haveria de se mostrar decisiva na formação da sua personalidade. De regresso à Inglaterra, ficou a serviço da rainha Catarina de Aragão, ao passo que sua irmã já era amante oficial de Henrique VIII.
Ana Bolena, a musa que inspirou a inserção do divórcio no mundo civilizado, ao insistir na recusa em ceder ao rei suas partes íntimas e influenciar na criação da Igreja Anglicana para realizar um novo casamento. Matando Catarina de desgosto, por ter sido passada para trás da fila, ao demonstrar-se incapaz de produzir um herdeiro varão. Coroada rainha da Inglaterra, sob o desagrado da população londrina que a chamava de bruxa, logo Ana deu à luz a futura Elizabeth I da Inglaterra.
A precursora do Movimento de Libertação das Mulheres, no desespero de gerar um herdeiro, sofreu inúmeros abortos espontâneos e chegou a incestar o irmão na busca por um gene másculo. Acusada de feitiçaria para atrair outros amantes, acabou decapitada por um Henrique VIII que se revelaria um homem insatisfeito com suas oito esposas. Dando razão ao Papa, que sempre abominou o divórcio por temer orgias de relacionamentos em busca do amor ideal. Por estar familiarizada com a alma errante dos infiéis, a Igreja Católica não desconhece, celibatários que são, que, por trás de cada Don Juan, existe um gay. Numa luta sem trégua para não deixar emergir uma natureza delicada e sensível, que o fará enxergar o mundo de outro modo.
Henrique VIII morreu sem descobrir a fórmula da felicidade. O trono, ao menos, caiu no colo de Elizabeth I, intitulada de a Rainha Virgem – eufemismo de lésbica. Com ela se fundaram as bases do majestoso império inglês, contemporâneo de Shakespeare, que transformou a comédia da família real britânica em drama e inspirou o seu fabuloso teatro, imortalizando a ambos.