Aproximam-se as eleições e não adianta mais invocar que não tem candidato à sua altura, ou o desânimo com a decomposição das instituições políticas sob os efeitos do mensalão, ou o prosseguimento do patrocínio de campanhas mergulhado na promiscuidade.
Votar é um ato em favor de um candidato, partido ou idéias com que você conjuga. Acredita em poder representá-lo. Se quiser votar com ódio por entender que o inimigo não está à altura do Planalto, ou com mesquinhez por não poder ver a caveira de quem pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão, é problema seu com o ato que é afirmativo. Não se pode votar com a Lei de Gerson no sovaco optando pelo candidato cuja vitória esteja assegurada e depois reclamar que não sabia. Senão o moralista vira oportunista e fica claro que tudo que deseja é a moralidade a serviço de propósitos manquitolados. Não adianta reclamar que um é chuchu que tá mais pra adjetivo que substantivo, outra é uma radical arcaica com idéias perigosas, ou de um presidente que se diverte com platitudes. Não adianta reclamar que já foi o tempo em que a patroa dizia para a empregada doméstica em quem votar. Não adianta reclamar que a classe C faz uma revolução às avessas e assume o comando no voto, deixando os formadores de opinião nas classes A e B a ver navios.
Os chamados não informados e menos escolarizados estão dando as cartas. Embora Lula tenha jogado no lixo a imagem de Fidel Castro, quando se rendeu ao capitalismo financeiro internacional, a turma dos que não votam no sapo barbudo engrossa com o peso da baianidade abençoada por seu deus, o ACM, companheiro de renúncia de Collor e Jânio Quadros. É a turma dos “contra”, a fiel expressão do anticastrismo.
Se dona Rosinha foi um disparate e agora se despede, é motivo para comemoração. Se paira no ar um pacto de silêncio, é porque São Paulo está acuado pelo crime organizado. Deu branco no Lembo ao chamar FHC de velho por ainda escrever cartas, ao não se lembrar de heteros influentes declarando-se antecipadamente nostálgicas do colecionador de títulos de doutor honoris causa, no apagão de seu mandato. Para que tanta birra, ressentimento, amargor, frustração, desesperança e medo do futuro? O pesadelo acaba por recair em você.
Não fique assim não, vem aí mais uma surpreendente e emocionante novela a respeito da ética e suas ramificações, depois que caíram os últimos paladinos do PT. Com Lula reeleito, seu mandato estará sob o fio da navalha com a ameaça do impeachment sem que jamais o consumem, pois em 2010 prevê-se um céu de brigadeiro para quem é do contra. Até lá Fidel Castro já morreu.