Como diz Clarice Lispector: “Há que se ter muito cuidado quando se toca no defeito de uma pessoa, pois, muitas vezes, é em torno dele que ela organiza a sua vida”. Esta luminosa afirmação sinaliza que não é tudo que se pode dizer a outrem já que as verdades são sempre particularizadas e os motivos, igualmente singulares. Há que levar em conta a humanidade de cada um. Ou a insensibilidade. E se a pessoa acha o defeito uma qualidade, quem é você para dizer que não? E se toda sua existência se guia pelo seu maior defeito, quem irá arcar com as consequências e levará a culpa é o livre-arbítrio do destemido ser. Se a teimosia explica a reiteração no defeito, também é verdade que o defeito poderá implicar numa reviravolta no seu destino, que só diz respeito ao esperançoso ser. Os incomodados que se mudem, se não aceitam que, para se amar de verdade, há que aceitar todos os defeitos.