Nem tudo são flores. Os maus espíritos estão por toda parte. Em qualquer lugar. À volta de nós. Disfarçados de bom moço e civilizado cidadão. Ou, dir-se-ia, dissimulados? Pois não conseguem esconder a velhacaria em suas intenções. Se dermos chance, se apoderam do que é nosso. Decidem pelos que se mostram hesitantes, sem personalidade própria, fracos de ânimo e de energia com medo de exercer o livre-arbítrio. Seu prazer especial: a alma dos descrentes, a quem chamam de covardes.
Embora os maus espíritos não constituam seres à parte, criados para o mal e perpetuamente voltados ao mal, espécie de párias da Criação, como algozes do gênero humano. São seres atrasados, ainda imperfeitos, aos quais Deus reservará o futuro para se autorreformarem, quando o amor invadir seu coração e a boa vontade se espraiar em seu espírito.
Diante do Bem, os maus espíritos se encolhem e imediatamente batem em retirada para não se deixarem contaminar. Eles sabem de antemão o alívio que o Bem pode lhes proporcionar e não querem se render, pois o caminho de retorno implica em reconhecer os passos errados de cabo a rabo, em toda a sua dimensão, e adquirir maior consciência para construir uma nova trajetória, cujo maior ícone seria a fé derrotar o pessimismo crônico que vem norteando suas encarnações.
Tarefa inglória para quem se encontra bem acomodado à família dos maus espíritos, embora sem o saber, pois o pessimismo o torna combalido e moralmente enfraquecido, complacente com o seu destino, arrastando-o ao longo do tempo, como se estivesse preso a correntes, sem que seja capaz de notar essa modalidade de martírio. Justamente porque não acredita em nada e muito menos em poder ser objeto dessa realidade, cevado na ignorância.