Seja com a sexualidade livre de hoje ou seja com a repressão mandando nos costumes no passado, o homem sempre achou difícil manter uma relação monogâmica. Pelo seu desejo se dirigir a coisas opostas, fascinar-se com o proibido e simplesmente ignorar o que está por trás do que é perigoso e arriscado. Atribuímos ao diabinho que nos habita o tamanho agito que conturba a nossa mente, especialmente dos que desejam um relacionamento monogâmico, mas não logram adaptar-se quando restritos às quatro paredes e o teto se converter numa barreira para se alcançar o Céu.
Também pudera, a monogamia se enquadra no maior sonho dourado que se realiza por ocasião do casamento ou da decisão de viver juntos, sendo desalentador descobrir depois que não saiu bem como se pensava. A solução seria então a infidelidade? Mas cuidado: por mais conflitos que existam, enquanto o homem desejar, não suportará dividir sua companheira com outros!
E as teorias que sustentavam que a mulher sonha com a utopia do amor eterno enquanto o homem deseja mais parceiras? Onde se meteram? Não brinquem com a sua própria sorte: uma sociedade sem espaço para a infidelidade deitar e rolar seria uma verdadeira mentira. Colocaria pressão demais nos casais, correndo o risco de desmoralizar a instituição da cara-metade. Nada impede a monogamia de acabar com o desejo e virar uma prisão. A sociedade é profundamente hipócrita em relação à monogamia, ao reiterar que a única forma boa de relação é aquela onde só cabem dois, fechando os olhos à experimentação generalizada que congestiona o acesso à felicidade.
A necessidade de exaltar o mercado para recuperar e engravidar a economia mercantilizou as relações, introduziu o consumismo no prazer, levantou a cobiça, banalizou a paixão, priorizou os interesses e piorou consideravelmente a ética no amor.
A maioria dos homens sonha e age como adolescente, apostando em fórmulas mágicas de relacionamento ou iludindo-se ao achar que a melhor forma de viver é não se prender a ninguém – você é livre! Pois ele só vê probabilidade de insucesso na monogamia, onde cada parceiro passa a tomar conhecimento de coisas íntimas do outro e se dispõe a fazer mau uso com tamanha informação privilegiada. É quando constata do quanto uma mulher é capaz de fazer com ele.
A cultura do homem é marcada pela crença de que a vitalidade encontra na heresia a sua praia, criando a ilusão de que tem um harém de escolhas, onde aquelas para valer, efetivamente, são poucas – baseada no princípio de que pobre, quando vê muita esmola, desconfia. Essa cultura é reforçada pela literatura, que não é capaz de produzir páginas excitantes sobre a monogamia. O adultério é o ingrediente mais importante das grandes obras – a não ser quando o homem corre atrás do grande amor de sua vida. Parece difícil e penoso articular de forma atraente sobre os prazeres da monogamia. Por suscitar tempos de bonança e felicidade, às vezes inspira tédio e amornam os prazeres, quebrando o ímpeto.
O homem confunde a felicidade com as drogas, que nunca satisfazem por completo, ansiando sempre por mais. O que o induz à infidelidade, a buscar uma solução fora da monogamia para dar vazão aos seus instintos fatais. Não sabe como desativar os mecanismos que torpedeiam o amor e o relacionamento enquadrado na monogamia. Por isso, ser preocupante encarar a monogamia. Ele não se garante.