Todos querem ser donos do Brasil. Nascem com o rei na barriga. Acreditam ser essa a grande chance de resgatar carmas e querem ser reis do Brasil. A nostalgia do Brasil monarca, de Dom Pedrito II, onde trabalho era desonra e coisa de escravo.
Quem é ruim, se destrói sozinho, palavras do filósofo que só volta à seleção brasileira nos braços do povo. O marrento, chutando cachorro morto, desafia o vingativo para um duelo no Coliseu do Maracanã contra a coadjuvante Bolívia e, de cambulhada, esporeia perdedores natos que não perdem por esperar. É o imperador Romário obcecado pela glória suprema: mais e mais gols. O criador de factóides que adora correr para a galera.
Collor foi impichado porque quis ser dono do Brasil e foi apeado do poder pelo poder econômico que a nação paulista representa para o Brasil. Os caras-pintadas ladraram e a caravana passou. Alaranjando, pretendia formar uma rede nacional de TV para fazer frente à vênus platinada, voando nas asas da VASP. Sonhou estender seus domínios: 5 anos eleito, 5 anos reeleito, primeiro-ministro, e Rei.
FHC entrou apelando para o patriotismo e dizendo que é mole governar o Brasil. Privatizando as nossas coisas, achando que não damos para o negócio por não termos o tino empresarial. Elegendo o empresário como a figura mítica que iria evitar a sangria do Estado e atrair recursos estrangeiros para transformar isso aqui numa potência do tamanho de Cingapura. Chegou a emudecer Roberto Campos de tanta emoção. Acabou por nos fazer chorar pelo leite derramado ao financiar produção, alongar prazo de pagamento e bancar compra de estatal.
Wanderley Luxemburgo quis ser o dono do futebol. Sabe que técnico da seleção brasileira é o cargo mais importante do Brasil depois de presidente da República. E olha que nos tempos dos óculos escuros da ditadura militar o treinador era considerado mais inteligente do que o general de plantão. Hoje não, o presidencialismo revestiu-se de um caráter monárquico, de um despotismo esclarecido, e o povo exige, ao eleger, que haja um mandachuva de quem possa tomar satisfações ou jogar bosta na Geni. E é nesse modelão que Wanderley se inspirou.
Como emergente, foi mudando sua faceta de técnico de campo para o chefão que abafa a voz passiva de seus auxiliares. Psicólogo, ao definir modelos de comportamento para a torcida. Generalíssimo, como chefe da delegação que se aproveita do prazer de viver nas alturas que acomete presidentes e mais presidentes. Não se cansa de escalar Betões, Jardéis, Élberes, Aldaires, Amorosos, Conceições, Robertos Carlos, desde que a sua estrela brilhe mais do que as outras. Arrematante contumaz de leilões, viciado em comprar e vender terras, imóveis e carros no intricado e cada vez mais milionário mundo do futebol, que cresce na mesma proporção da influência de empresários que transformaram atletas, para desgosto de João Saldanha, em mercadorias. Agora valorizados, é verdade, mas distantes do povo, que não os considera gente como nós, ao jogar moedas como se fossem confete para saudar essa nova era. A era do futebol de negócios, do futebol de resultados que venceu e montou seu balcão na CBF, que vive às custas de nosso talento, o talento do jogador brasileiro.
Só dá filósofo no futebol, quem reclama é o ex-ministro dos esportes Zico. “Hoje, no Brasil, somos acusados e nós é que temos que provar, desmentir as coisas. Quem acusa, tem de provar, poxa.” Sem se dar conta que hoje o brasileiro já nasce com culpa no cartório, pendurou-se tanta conta que o rabo ficou preso. Todo mundo é culpado até propina em contrário. Cara de bobo, indignado e surpreso, escolha o disfarce que melhor encaixar e compre ingresso para o próximo espetáculo.
Deixe um comentário