Eu não gosto de panelas.
Boto a cara na janela
e observo o trem passar.
Quando preciso embarcar,
escolho um vagão
e não ando sempre no mesmo.
Sou fiel a mim mesma
e grata aos diferentes motoristas
que me guiaram até aqui,
mas preciso seguir
e não consigo apagar
todo o caminho que percorri.
Uma curva não invalida a reta.
Minha vida não é uma seta certa,
é torta, bifurcada.
Vou me criando
nas ramificações,
nos processos.
Não vivo de retrocesso,
nem de passado.
Também não acho
que já estive errada.
Estava no lugar certo,
na hora boa.
Ninguém muda à toa.
Eu ando sozinha
e não em panelinhas,
porém guardo um pouquinho
de cada um com quem estive.
Meu passado em mim vive,
mas meu presente é livre.