Como manter o segredo que Papai Noel não existe, de modo a não frustrar as crianças quando vierem a descobrir? Perdendo um dos maiores pilares da inocência infantil, formador de personalidade que norteará vocações e escolhas futuras.
De maneira que a criança não se sinta enganada, foi uma grande brincadeira para que se sentisse bem-amada e querida em meio aos brinquedos e aos festejos natalinos. Antes que meninos e meninas sejam obrigados a entrar na bruta realidade de um mundo que não tem o suficiente para presentear e se alimentar com panetones, castanhas, rabanadas e frutas cristalizadas.
E se o infante crescer e achar por bem denunciar a grande mentira para os menores? Para os que estão abaixo dele. Será que irão acreditar nele? Desconfiarão, com esse papo de que isso é história de adultos para enrolar e sossegar o facho das crianças?
Depende da ilusão, se ela for melhor que a realidade. E aí, dane-se para os fatos! Se a felicidade advinda da história da carochinha suplantar a imaginação fértil que costuma inventar que Papai Noel não existe. É melhor que Papai Noel prossiga vivo, mantido de pé, a esvoaçar por todo o planeta de trenó a distribuir presentes.
Pouco importa se ingressa nos lares pelas chaminés ou é um espírito vivo, se ainda existe rena com florestas desaparecendo em chamas, se a neve em flocos não atenua o fragor de guerras incessantes que se desenrolam por sobre o tapete branco que deixam em seu rastro.
Como não deixar de apostar no espírito do bom velhinho que consagrou Papai Noel? Para começar a perder a inocência e tornar-se um garoto ou uma menina mais esperta? Para ter o fim do Peter Pan, que nunca mais quis crescer ao chegar na adolescência? Se se aprofundar em Peter Pan, descobrirá que ele tinha fundados motivos para o adulto não merecer sua confiança.
Por si só, já é um problema bem grave para a criança mais velha. Abrir o jogo, dar com a língua nos dentes, inaugurando o instituto da delação, para desmascarar, e a quem? Logo a seus pais? Não! Ademais, seus pais viriam com uma versão que ela não conseguiria engolir. É melhor calar-se! O que fará muito mal a ela, por ter de esconder a verdade, também ela mentir, e não encontrar ninguém à altura para dividir o dilema. Dilema em tão sã idade?
Tão pequena, e já sem saída. A demonstrar a evolução dos tempos, Peter Pan teria 15 a 16 anos, enquanto a desiludida criança, 8. Quer dizer que o nosso destino futuro é acabar com a mentalidade da criança e fazê-la amadurecer o quanto antes? Detonando falsos ídolos como Papai Noel?
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