A CRÍTICA DA CRÍTICA
Entrevistado por Eduardo Passos, psicólogo e ativista de direitos humanos, “Pastor Cláudio”, dirigido por Beth Formaginni, é o delegado (às antigas) que virou pastor para começar a pagar parte da dívida, ainda em vida, que contraiu com quem executou ou mesmo deu o tiro de misericórdia e incinerou cadáveres de militantes da luta armada barbaramente torturados. Dizia matar sem emoção, apenas cumprindo ordens, fascinado pelo poder alcançado e por um dinheiro que não mais se nota em sua débil aparência. O que ele chama a atenção na ditadura militar é o apoio de civis e empresários como os banqueiros do Banco Mercantil de São Paulo e Bamerindus, que financiaram a OBAN e complementavam a folha de pagamento dos torturadores. Bem como os usineiros de Campos, a quem foram distribuídas metralhadoras pelo Exército para aniquilar quem lutava pela reforma agrária. Assim como confirmou que o atentado no Riocentro foi concebido pelos militares a partir de uma bomba de pequeno calibre, que explodiria para pôr a juventude, que foi assistir ao show de Chico Buarque e de outros astros, a sair correndo, matando-se, uns pisando nos outros. Garante que a irmandade da ditadura sobre-existiu, findo o período de exceção, de modo a manter o aparato, a infraestrutura, os privilégios, o que sobrou de poder, e eventualmente uma queima de arquivo aqui ou ali, até para evitar denúncias de “traidores” como a do próprio pastor Cláudio, que virou livro e filme de modo a Deus perdoar seus pecados. O pastor chegou a ser “cantado” pelos antecessores dos milicianos para se refugiar no exterior, mas não aceitou, face a guardar documentos comprometedores desse submundo. Até vir o governo Lula e a Comissão da Verdade com a intenção de sepultar a ditadura, o que suscitou a revanche por parte de Bolsonaro e a sua junta militar para se vingar dos petistas e da esquerda. O filme, quando aborda o atentado a Zuzu Angel, vitimada num acidente de automóvel forjado pelo monstruoso Coronel Perdigão, por ela vir denunciando a Henry Kissinger as barbaridades da ditadura que trucidou seu filho e desapareceu com seu corpo, lembra a execução da vereadora Marielle, por ela também vir complicando a ação criminosa dos milicianos no Rio de Janeiro e Bolsonaro enaltecer o Coronel Ustra, seu torturador preferido. Embora sendo pastor, Cláudio Guerra se expressa muito mal sob o peso de seu passado que o condena, e a todos que compartilharam momentos inesquecíveis em sua presença.
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