O diretor e roteirista Leonardo Lacca, o representante da novíssima safra do inteligente e afiado cinema pernambucano, consegue uma façanha em seu filme vencedor do recente Festival de Cinema de Pernambuco. Ele nos insere na cabeça do personagem do excelente ator Irandhir Santos, fotógrafo que chega em São Paulo para sua primeira exposição de fotos e se hospeda no apartamento da ex Rita Carelli, cujo vínculo entre ambos ainda não foi resolvido, embora ela já tenha refeito sua vida e se casado com outro, o que não impede Irandhir de procurar novas opções bem mais interessantes. Ele também nos insere na cabeça de Carelli para nós podermos examinar como ambos reagem a essa aproximação sem fazer muito uso de palavras ou uma voz em off para explicar, e o como o que não é dito falando mais alto e perfeitamente inteligível para a plateia, mesmo abusando de banalidades, justamente para se opor a encucar o tema ou intelectualizar demais, como seria próprio de filmes de vanguarda. Não seria a pretensão de Lacca, mas ele nos imerge na insatisfação, na frustração, do bem querer reprimido, no escapismo, na tentativa de esquecer, de preencher os espaços vazios dos personagens, cada um dentro do seu ponto de vista. E, nessa viagem, sofremos juntos como eles. A fotografia é o mote do filme, fazendo-nos cair em si quando revela nas fotos o que tentamos esconder e ninguém pode mais negar. O filme depende de como irá ser olhado, observado ou rejeitado por expor demasiado o que costumamos mentir para nós mesmos, senão levando a mentira para a vida inteira. Mas também pode ser considerado como uma obra-prima de acesso a uma nova linguagem de cinema ou de singularidade inédita ou de uma pureza alternativa única.
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