Tristeza da torcida brasileira que gritava timinho para a seleção do Wanderley, que jogava com três cabeças-de-área diante da poderosa esquadra da Venezuela. Ou melhor, vaiava o Wanderley da seleção, que traíra seus novos princípios implantados no Corinthians, tornando-o vitorioso até hoje. Meio-de-campo criativo abre buracos na defesa, perigoso em início de competição. Treme de medo de ser logo eliminado na fase de classificação do Pré-Olímpico. Justo o comandante-em-chefe Luxemburgo, que afirmara categoricamente na pífia final do Mundial de Clubes que “o medo de perder tira a vontade de ganhar”. Normal, portanto, dar ordens claras de não ouvir vaias no estádio, e desafiar a torcida para uma queda-de-braço.
Voltemos no tempo quinze dias. Antônio Lopes lembra-se do coração, do campeonato perdido para o Flamengo e da eliminação do Brasileirão pelo Vitória, e resolve não correr o risco de substituir Edmundo na decisão do Mundial de Clubes. A partir do segundo tempo, suas pernas tremem, o cérebro paralisa e os olhos se esbugalham diante do espectro de São Dida. Parara no tempo e no espaço, a exemplo de Heleno de Freitas, o temperamental craque botafoguense. Como substituí-lo depois dos maravilhosos gols contra o Manchester United e South Melbourne? Ademais, isso já acontecera com Zico, Baggio e Platini. Em fase de recuperação pela perda do pênalti, Edmundo, contudo, ainda delira, sonhando com um time de ponta na Itália capaz de disputar o título.
Voltemos no tempo dois meses. Depois de conquistar brilhantemente a Libertadores da América, em batalhas gloriosas contra o Vasco da Gama e o Corinthians, o Palmeiras deixa-se vencer pela ansiedade do resguardo de seis meses e joga fora de suas características na outra decisão do Mundial de Clubes. Na base do abafa, como se fosse o time inglês. Sem criatividade e manha, ao ter incorporado o espírito do técnico Felipão para que as pernas não tremessem. A direção do Palmeiras não suportou o fracasso, rifou o time inteiro. Faltou habilidade.
Voltemos no tempo três meses. O Flamengo crucifica Romário, cuja liderança perniciosa conduziu a imensa nação dos crentes rubro-negros ao Holocausto. O Deus Romário não havia conquistado os títulos que prometera, desde a Copa do Mundo de 94 seus milagres foram escasseando, apesar dos gols assinalados, em fartura e em genialidade. As pernas da direção do Flamengo tremeram quando dispensaram o deus. Quiseram até voltar atrás. Afinal de contas, era Deus. Faltou talento.
Tristeza da torcida que entra em campo para ver gols, craques e dribles. Que grita timinho, inconformada com a falta de talento no mundo. Que não entende porque Rivaldo é eleito o número 1 e, quando veste a amarelinha, se apaga. Numa era em que jogador fratura a perna, pura e simplesmente por estresse, não resta a menor dúvida de que grassa no futebol uma epidemia de pernas trêmulas. A era Ronaldinho. Ainda estamos de cabeça baixa. Perdura a síndrome da convulsão.