A mãe que cavava com as mãos a terra enlameada para achar a filha de 17 anos, que chamava de princesa e não residia em Petrópolis, tendo morrido abraçada à avó, e assim encontradas num sofá, quando colhidas de surpresa pela avalanche, que as soterrou. Outra mãe que levou 9 anos para engravidar e só aproveitou sua filhinha por quase dois aninhos. O pai que não pôde segurar o filho, que cursava o jardim de infância e foi arrastado pelo mar de lama que pôs abaixo as paredes de sua casa, também levando o pai a bater com sua cabeça na carroceria de um carro, igualmente tragado pela correnteza, e a desmaiar – internado no hospital, ainda não sabe da morte do filho. A avó já tinha sido vítima de um aguaceiro em 1971, cujo deslizamento de terra atingiu em cheio sua casa. A neta Cecília, como forma de homenagear o nome da avó, reproduziu o seu fim trágico, tornando-se uma das vítimas da tragédia em Petrópolis. Mesmo sabendo que as águas da chuva inundavam a cidade, provocando o desabamento de casas, ela cismou de tomar mais um café no segundo andar da clínica em que trabalhava, pouco antes de tudo vir abaixo. Insistem nas queimadas e na mineração artesanal enquanto as condições climáticas do planeta pioram e não nos deixam ir a outro lugar a salvo. Ainda não é possível abdicar de nossa condição humana e optar por outra tribo.
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