Uma vez me perguntaram: por que Vancouver? O que parecia uma pergunta fácil, me fez parar para pensar. Queria achar dentro de mim as razões pelas quais eu virei minha vida de cabeça para baixo. Queria achar as razões que me fizeram sonhar com essa cidade, que me fez querer voltar e ficar. Aquelas que ficaram martelando dias e noites dentro de mim. Achei várias.
Uma das primeiras coisas que me pegou de vez foi o tempo. Aqui chove muito, verdade, mas nada apaga a beleza de ver as quatro estações bem definidas. Eu achava que gostava de inverno, mas o que eu gosto mesmo é do outono. Folhas de tudo quanto é cor: amarelas, marrons, vermelhas e tapete cobre em todos os jardins. O outono de Vancouver me faz suspirar. Depois vem o inverno que, pros meus padrões, é agradável (suportável para qualquer brasileiro) e todo mundo anda elegante. A primavera é linda, claro, e o verão é a estação mais esperada. É quando todo mundo sai de casa, vai pros parques e praias. Aquela sensação de que não se pode perder nem um diazinho sequer. Achei fantástico quando vi de perto as mudanças da natureza e quando dei por mim que de 6 em 6 meses os canadenses revezam o guarda-roupa.
Transporte público é outra. Existe um livrinho para cada área com a hora aproximada que o ônibus chega nos pontos. Desde que você esteja 2 minutos antes no seu ponto, não tem erro. Seu ônibus estará lá. A novidade agora é que você, sentado no ponto do ônibus (elétrico e genial), pode mandar uma mensagem de texto para 33333 com o número do respectivo ponto e com a linha que você está esperando. Daí a 3 segundos eles te mandam uma outra mensagem com os horários. E funciona. Hoje mesmo a previsão era para 12:39, linha 17. E o ônibus estava lá às 12:39. Adoro.
E as oportunidades? Nossa! Anúncios para tudo quanto é canto. Jornal, internet, cartazes. É difícil não ter um emprego digno quando as oportunidades estão ali, estampadas em qualquer lugar, praticamente esfregadas na sua cara. Claro que muitas das vezes não são os melhores empregos do mundo, mas são um grande começo. Um grande começo tratado com o respeito devido por toda a sociedade, seja você o motorista do ônibus que chega no horário previsto ou o meteorologista que fornece a previsão do tempo.
Mas de que adianta não se atrasar para o seu emprego e vivenciar sol e neve em um mesmo ano se você não tem alguém? Aquele alguém que faz a diferença na sua vida. Aquele que te faz rir, mesmo quando a previsão é de chuva para a semana inteira. Eu achei alguém e, por ironia ou sorte, esse alguém é canadense, de Vancouver. No fundo, romântica do jeito que eu sou, sei que foi decisivo. Deixei pra trás um emprego que eu gostava, uma família que eu amo e amigos, os quais ainda não aprendi a viver sem. Mas deixei o Brasil feliz, esperançosa. Saí sabendo que eu ia ter minha liberdade e minha independência de volta. Mais do que isso, saí pensando nele, nos nossos planos, na nossa família. E, no final das contas, descobri que as razões pelas quais eu me apeguei e descrevi acima são meramente a gota d’água. O copo mesmo, ele que encheu.
Ana Fleming
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