As pedaladas fiscais foram adotadas desde o governo FHC, facilitadas pela estabilização monetária com o objetivo de aliviar o fluxo de caixa, e carregando em seu rabo comprido as praticadas por governadores e prefeitos, e sendo aceitas pelos tribunais de contas em todo o país por décadas. Contudo, afirmar que as pedaladas constituem a origem da maior crise que já se viu no país, responsável pela inflação, recessão, diabo a quatro e o fim do mundo, sem sopesar com a campanha pela deposição de Dilma dia seguinte ao que venceu as eleições, em função da não assimilação da derrota por pequena margem, não resiste à menor análise de que a política precede a economia e que a política do quanto pior, melhor afundou o país. A despeito de alguns problemas econômicos que o Brasil vinha enfrentando em combinação com o desenrolar político-partidário da Operação Lava-Jato, baseada no corrupto financiamento privado de campanha eleitoral, hoje já derrogado. E, se houve mudança de jurisprudência do Tribunal de Contas da União (TCU) no final de 2015, o governo Dilma não pode ser punido por operações anteriores. Ou seja, a pedalada era aceita em patamares baixos, quando, de repente, o TCU descobriu que, acima de determinados limites, era inadmissível. Mas quais seriam esses limites se eles jamais foram especificados? Só depois de fixado e dado publicidade, é que haveria respaldo para acusar Dilma de crimes, conforme o Globo alardeou maldosamente em manchete. Além disso, o Congresso teria de se obrigar a julgar e convalidar a reprovação das contas de Dilma pelo TCU, para abrir o processo de impeachment. Em suma, o golpe é por demais evidente nos ataques apopléticos e misóginos de tirar Dilma de qualquer maneira: “eu não aguento mais, estou à beira de um ataque de nervos, afastem essa mulher”. O impeachment não pode ser banalizado, senão vira vendeta a cada eleição. Só cabe impeachment por atos extremamente graves, que atentem contra a Constituição e tenham sido praticados intencionalmente.
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