Já viram alguém contratar um criminoso para livrá-la do fardo insuportável que é viver? Recomendando que lhe dê tiros na cabeça de modo a não ter chances de sobreviver. E, na hora H, o bandido sinalizar que iria fugir com o dinheiro combinado e a advogada ameaçá-lo com “eu sei onde você mora”, “posso acabar com sua vida”, “se eu pegar esse revólver, mato você e depois me mato”, “você acha que sou tonta?”. Não sem antes ela despejar gasolina em seu carro.
Ela teve o que pediu. Para se livrar da luta contra a depressão com terapia e medicamentos. Para sair da situação de anormal e ingressar na normal, que é morrer, já que irreversível. Para dar um fim na síndrome de rejeição que se iniciara na mãe biológica, que a abandonou. Prosseguiu no casamento de oito anos, rompido, dentre outros motivos, por ela reconhecer não poder ter filhos, se corria o risco de afogá-los numa banheira. Finalizou quando combinou um encontro na véspera do Dia dos Namorados com um rapaz que conheceu na rede e, em cima da hora, ele desmarcou, depois de ela ter comprado vestido e ido ao salão para se maquiar e fazer unhas e cabelo. Não sem antes comprar um carro zero, equipá-lo e marcar uma lipoaspiração.
Não aguentou bancar a forte e deixou órfã sua poodle, da qual nunca se separava. A coisa mais incrível de sua vida.