Se pretendemos avançar rumo a uma democracia capaz de assegurar oportunidades iguais para todos, devem caber no acesso à universidade pública as cotas sociais, para que os pobres prossigam nos seus estudos e possam compensar a injustiça de um ensino fundamental predominantemente deficiente. Sem contar a dívida histórica do Brasil em relação aos negros. Se não cabe a distinção racial por já sermos um povo miscigenado ou moreno ou quase branco ou em franco progresso no alisar o cabelo, isso é uma cortina de fumaça para retardar o passo e inserir na discussão a meritocracia no passar de ano, baseada em critérios de berço, formação em escolas privadas de tradição, quando não estrangeiras, custeadas a régio preço, e cujo corpo discente não deveria estar sujeito a perder sua vaga na universidade de ambição por revelar capacidade das menos brilhantes – em outras palavras, assegurar a vaga para o pobre menino rico. Como se não houvesse um histórico de exclusão na formação dos pobres meninos pobres ou dos mestiços a pesar na consciência de um país em que Governador Valadares sinalizava a porta de saída do Brasil para Miami e Nova York. Quando a solução está aqui entre nós e não incluída em nenhum programa presidenciável: derrubar as barreiras invisíveis do apartheid social, fomentadas pela discriminação de quem se acha mais e não suporta conviver com “gentinha”. Se pudesse, essa gente supostamente refinada aumentaria os preços das tarifas de avião, das viagens ao exterior, dos automóveis e demais bens de consumo, para a diferença gritante entre as classes sociais tornar ao bem-bom que era. Sem ninguém na fila, à sua frente.
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