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PROFESSOR, O SENHOR É GAY?

– Professor, o senhor é gay?
Caberia apenas eu dizer “sim” ou “não”, contudo, já tinha sido questionado algumas vezes. Uma vez por ano, pelo menos, vem um aluno e pergunta. Na verdade, geralmente alunas. Resolvi interromper a aula e mudei o tema para “gênero e sexualidade”. Usei a indagação da aluna e a mim mesmo como exemplo. Perguntei a ela qual era o motivo de suspeição da minha homossexualidade. Ela não quis responder com medo de uma reação minha negativa ou agressiva, como é bastante comum na sociedade. Eu insisti e ela começou a se explicar. Daí todos os alunos se mobilizaram e foram apontando alguns padrões de comportamento que acreditavam sinalizar a orientação sexual de uma pessoa. A bem da didática, fui anotando no quadro-negro suas impressões para debater uma a uma, usando a minha página de Facebook para vazar o assunto que, imediatamente, viralizou. Ao longo de uma conversa clara, aberta, e sem chistes, consegui reunir estereótipos associados ao que é “ser homem homossexual”:
a) Uma aluna dar mole e você não pegar.
b) Não falar de relacionamentos, namorada, nem da vida pessoal, e o que faz no fim de semana. Mas os outros professores falam.
c) Ser um professor novo, moderno, simpático. Isso não é característica masculina.
d) Colocar às vezes a mão na cintura.
e) Gestos e fala característica de homossexual.
f) Se outros alunos comentam que você é gay, é meio caminho andado.
g) Ser vaidoso, se cuidar esteticamente.
Instiguei os alunos a arrolar mais argumentação enquanto me posicionava para rebatê-los. Deixei eles em dúvida se era gay e, no lugar, debati o assunto. Não quis provar que era hétero mostrando fotos com alguma namorada. Não sou machista. Tenho 30 anos, não casei e não tenho filhos. Para os alunos, nessa faixa, todos já se casaram e tiveram filhos. Só gays chegam aos 30 anos sem se casar. Além do mais, tenho amigos gays.
Não é difícil deduzir seus pontos de vista: homem que é homem pega aluna, não rejeita mulher e ainda fala daquelas que conquista. Professor hétero não é simpático; simpatia não é característica masculina. Homem que é homem nega com veemência a homossexualidade, como se fosse um crime. E é obvio que homem de verdade não se expõe discutindo esses assuntos, muito menos usando a si mesmo como exemplo. Homem que é homem é machista. Homem de verdade casa antes dos 30 e tem filhos antes disso.
Por que, então, eu não fiquei indignado, afirmando que não era gay, e aí encerrando a polêmica? Por que debati algo tão pessoal com adolescentes? Qual o problema em ser gay? É alguma transgressão aos costumes? Imoral? Não. Ser gay ou hétero para mim é apenas uma opção sexual, na dependência do que eu gosto ou prefiro.
Fiquei estarrecido com a visão estreita de gênero e sexualidade de adolescentes em pleno século XXI. Se você não cumpre seu papel de macho, só pode ser viado. Por aí se constata a feroz repressão que os homossexuais sofrem no dia a dia. Por que usaria uma mulher para provar minha heterossexualidade como quem precisa provar sua inocência? Grotesco e aterrador ver os jovens terem concepções tão atrasadas quanto as que nossos pais ou avós cultuavam antes do surgimento da pílula anticoncepcional. O machismo é igualmente opressor com os homens.

Antonio Carlos Gaio:
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