Cheio de moral pelo sucesso de sua política de segurança no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral resolveu investir contra a hipocrisia que reinou na campanha eleitoral para presidente, a respeito de aborto ser assunto de saúde pública. Julgando ter se cercado de cuidados, o casal, levado pela paixão, não mede as consequências, até que ela engravida numa idade que irá estragar o que planejou pro seu futuro, sendo obrigada a recorrer a clínicas clandestinas sem nenhum controle de vigilância médica, sequer sanitária. Quantas mulheres não vão parar nos hospitais para reparar danos causados por abortos malfeitos? Ninguém é a favor do aborto, mas não há como tirar o direito da mulher ou do casal de interromper a gravidez, embora constitua um assassinato consentido. E isso não é assunto para ficar sob o tacão do universo masculino de padres e pastores, pouco afeitos às agruras da mulher ao perseguir sua independência e o seu bem-estar em família. Não combinou com a decantada modernidade tucana Serra ter desencadeado, com o apoio de setores iminentes da Igreja Católica e de congregações crentes, uma campanha machista, moralista e medieval contra Dilma, obrigando-a a se posicionar contra o aborto. Quando Serra, Dilma e Cabral diriam em coro: “Atire a primeira pedra quem ainda não abortou!”