Os cariocas não conseguiram dormir naquela noite em que o Equador nos derrotou de 2 a 3 no Morumbi. A torcida paulista clamou pelo retorno de Romário à seleção. Para quem vaiava sem cessar o Paulo Cesar Caju com a amarelinha na década de 70, pode ser considerado uma evolução e o princípio do fim de uma rivalidade. Chamar o Wanderley de burro acaba formando uma corrente pra frente que começou em Londrina, embora a burrice hoje esteja tão banalizada que não soa mais como ofensa. O fino do Ronaldinho não entrou por estar grosso de gordo.
Luxemburgo sabe que técnico da seleção brasileira é o cargo mais importante do Brasil depois de presidente da República. E olha que nos tempos dos óculos escuros da ditadura militar o treinador era considerado mais inteligente do que o general de plantão. Hoje não, o presidencialismo revestiu-se de um caráter monárquico, de um despotismo esclarecido, e o povo exige, ao eleger, que haja um manda-chuva de quem possa tomar satisfações ou jogar bosta na Geni. E é nesse modelão que Wanderley se inspira. Sabe que não é um homem bonito por isso corta o cabelo rente, só consegue dissimular suas raízes. Se esmera no corte das unhas, dos ternos e dos jogadores que ousarem fazer sombra ao elevado grau de soberano a que foi guindado. Sua excelente folha de serviços no futebol permite que paire acima dos gênios difíceis do futebol. Até perdermos mais uma Copa do Mundo de forma ridícula.
E se der certo a experiência de geneticistas americanos no desenvolvimento de vacas clonadas com células mais jovens do que as de outras vacas da mesma idade? E se descobrirem como fazer com células humanas, abrindo caminho para retardar o envelhecimento, aumentando a expectativa humana para 200 anos? A fila seria de perder de vista para clonar Romário, Edmundo, Marcelinho, Ronaldinho dos tempos de Bento Ribeiro, Pelé sem abrir a boca para falar de política, Zico para finalmente ganhar uma Copa do Mundo. Quem teria a coragem de clonar Luxemburgo? Ele mesmo não iria querer pois não agüentaria conviver tanto tempo entre estrelas dessa magnitude – e o gostoso é brilhar dentro das quatro linhas.
Não é à toa que esfria a cabeça ao assistir filmes de gladiadores na olimpíada da vida. Adormece antes de ver os imperadores se livrarem dos que caíam em desgraça, obrigando-os a tomar cicuta. Não soube que nosso presidente intelectual, pensando em Sócrates, despachou outro ministro, arrancando da boca de Greca a risada fácil do Coringa, ao sugerir-lhe uma cicuta amiga.
Ainda bem que Wanderley não precisa temer a entrada das mulheres no seleto mercado das cabeças pensantes do futebol. Pelo menos por enquanto. Como é o caso de Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, que disputa uma vaga no Senado com nada mais nada menos do que Mrs. Hillary Clinton. O medo da disputa era tamanho que gerou um câncer na próstata. Era em cima dele que ela iria descascar o carma do Clinton entre felácios, estagiárias, salão oval e pera aí, que vou ali num instantinho!
Para que, então, perder a calma e demitir o ascensorista do Teatro Municipal? Ao conduzir o público de ingresso mais barato, anuncia no quarto andar: “Central do Brasil, podem saltar!” A galeria concentra o maior número de eruditos, torcida hoje se chama galera e o maquinista não entende desse trem.
Luxemburgo troca de canal e acomoda-se melhor na poltrona para assistir o depoimento que irá abalar os alicerces da Velha República: Marcinho VP à CPI do Narcotráfico. Ele e a torcida brasileira se irritam com o discurso de esquerda que faria Zapata chamá-lo de burro, ao concluir que o Haiti não é aqui e a banda podre vem é da Bolívia. Ideiazinha americanófila, ou melhor australiana, vindo de um tiete de Mad Max, por questões de afinidade bárbara. Por aí se vê que de nada adiantou as aulas de conscientização política proferidas pelo cineasta-sociólogo João Moreira Salles, considerado por VP um abolicionista do século XXI, com uma perfeita noção da escravidão que rola nas favelas.