A câmera focando com muita arte e sensibilidade as cenas mais dramáticas torna “Rainha de Copas” no melhor lançamento dos últimos 3 meses. O filme dinamarquês dirigido por May el-Touhy gira em torno de uma família em sua bem montada casa, filhos de casamentos diferentes se cruzando, assédio e sexo explícito em cenas inéditas ou não, mas chocantes. Tudo é tão intenso, tenso e sufocante, fazendo com que a plateia assista emudecida. Do que o ser humano é capaz movido pela falta de caráter monstruosa, com graves consequências em menores quando vierem a tomar conhecimento em idade adulta. Os jovens não têm estrutura, na sua maioria, para resistir à maldade de investidas de quem um dia dirá que amadureceu gramando com seus erros. Trine Dyrholm encabeça o elenco de forma brilhante no papel de advogada especializada em lidar com assédios a menores e, ao mesmo tempo, responsável pela desconstrução de família, arriscando a estabilidade tanto de sua vida pessoal quanto profissional. Embora de temática ousada para quebrar padrões se valendo de ingredientes da sociedade moderna e tecnológica de hoje e provando que o ser humano continua o mesmo, em tudo lembra o célebre e saudoso Nelson Rodrigues, ainda não reconhecido na Europa como é no Brasil. Mentira da grossa, hipocrisia como se nada estivesse acontecendo, tortura psicológica para fechar a boca de delatores que tentam anunciar o fim do mundo, a luxúria irresponsável, a insatisfação no amor atribuída ao casamento, o desejo célere que não se consegue controlar, a negação do crime de responsabilidades, e depois do fato consumado, o arrependimento tardio que se transformará numa chaga difícil de remover em sua trajetória espiritual.
Deixe um comentário