Quando falamos do Maranhão, lembramo-nos sempre dos franceses, sequiosos de ver sinais de sua cultura em São Luís, nome dado em homenagem a Luís XIII, quando da instalação da França Equinocial em 1612 pelo Senhor de la Ravardière. Domínio esse que não durou nem três anos, o bumba-meu-boi tomaria depois o que lhe era de direito.
Não há em São Luís do Maranhão quem nunca tenha ouvido falar de Ana Jansen, comerciante que no início do século XIX acumulou riqueza e exerceu forte influência no tráfico de escravos. Cometia as maiores atrocidades contra seus escravos, a ponto de escolher os melhores para traçar e depois matar. Conta a lenda que nas noites de sexta-feira costuma-se deparar, defronte ao casarão em que morava, com uma apavorante carruagem puxada por cavalos brancos sem cabeça, conduzindo o fantasma da falecida, que ainda paga pelos pecados cometidos.
Ao transitar de uma base social do período colonial voltada para a exportação do algodão suprindo a Revolução Industrial, o Maranhão se fez província e eclodiu a Balaiada. Reflexo do Quilombo dos Palmares, 90 mil escravos para uma população aproximada de 200 mil habitantes. Pondo no mesmo balaio a cultura de subsistência, a monocultura e a cultura popular, excluída apenas a elite da cultura. Irritando João do Vale um século depois, quando compôs “Carcará”, um bicho que avoa que nem avião, a águia do sertão que come até cobra queimada. Tem mais coragem do que homem, num vai morrer de fome, carcará pega, mata e come.
À frente de São Luís, a Paraty do Maranhão: Alcântara, onde construíram uma base espacial favorecida pelos efeitos reduzidos da força da gravidade. Comenta-se à boca pequena que os Estados Unidos explodiram a base em represália à não ratificação do acordo para utilização do local. Os índios já haviam descoberto que Alcântara era um espaço para o infinito – definido no termo itapereí -, um lugar sagrado para seus rituais.
Os portugueses enganaram os índios desde que puseram os pés no Maranhão. Diziam que não pretendiam fixar residência, apenas permaneceriam cinco luas e voltariam em um ano. Dormiram com as índias e procriaram muito, deixando-as felizes de ter filhos deles. Foi-lhes sugerido que deveriam se acostumar aos portugueses, no futuro construiriam fortalezas e edificariam cidades para formar uma só nação. Com o tempo, vieram os padres e as cruzes para convertê-los à necessidade do batismo extirpador do senso pagão e legalizarem as uniões que proliferavam – conversa fiada para enfeitar o bolo. O ciclo de exploração não podia prescindir dos índios como servos nos trabalhos domésticos e escravos para a economia florescer. A exploração, para ser completa, teve que alcançar os curumins, pois é de pequeno que se torce o rabo, pondo a ferros toda a cultura indígena. Palavras de Monboré-Uaçu, chefe tupinambá no Maranhão de 1612.
Quem canta seus males espanta. Diante de tantos maus-tratos aos filhos do Maranhão, o desafio foi encontrar a paz através da decantada cordialidade brasileira e arribar uma paixão sufocada por minhocas na cabeça. Em nome de quem ainda se procura no Maranhão.