Esfregamos os olhos e não acreditamos no que estamos vendo. Vivemos em um permanente espetáculo de mídia, onde as idéias são tratadas de forma irresponsável e consumidas como fast-food. Revestimo-las de efeitos especiais para mascarar realidades inquestionáveis no curso de uma verdade pasteurizada que só consegue nos oferecer uma forma comunista de encarar o cotidiano, com uma pletora de costumes, simpatias e atitudes absolutamente assemelhadas. Quando o preferível seria lançar mão de fragmentos e caminhos oblíquos, escapando ao rigor do discurso que nos engana, mergulhando num paradoxo de que os signos evoluíram, tomaram conta do mundo, e hoje o dominam.
Com a intenção de transformar o povo em objeto de fetiche, ao virar valor de uso e troca a um só tempo. São maquiavéis que exploram os meios de comunicação de massa para produzir uma realidade virtual que nos torna passivos, submetendo-nos a uma hemodiálise diária que depura do sangue todo o seu caráter ativo.
Os terroristas que destruíram as torres gêmeas de Nova York inauguraram uma forma alternativa de violência que se espalhou em alta velocidade, fundando o século XXI ao atingir uma cultura calcada em dualismos maniqueístas que regride de forma primitiva, quando atacada em seus brios e na moral puritana anglo-saxônica – nunca mais serão os mesmos.
Pior é que não estamos preparados para ser humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia, conforme denunciado pelo ensaísta francês Jean Baudrillard, que inspirou o filme “Matrix” com o seu “Simulacros e Simulações”.
To be or not to be? Saber fazer a leitura da relação entre ilusão e realidade, eis a questão. A exemplo de “Cidade dos Sonhos”, de David Lynch, deixando o público entre irritado e maravilhado. Por onde entrar na história do filme, sorvendo o lisérgico das sensações oferecidas no fluir da inteligência de nossas vidas?
Inteligência que pode ser artificial a refletir relações sem interatividade. Prefere-se a vinculação sem envolvimento, traduzida em tiradas ocas do gênero “aparece lá em casa”, quando se deseja o contrário. O discurso político caiu no vazio, a palavra como agente transformador só resgata sua percepção e entendimento no esoterismo, na religião, na psicologia e nas filosofias alternativas, onde a ação dá conseqüência ao pensamento, não bastando sentir, há muito por se fazer.
Enraíza-se a impotência em corrigir as mazelas da coletividade, procura-se fortalecer o discurso como agente transformador do progresso individualista. E ainda nos orgulhamos de nosso intelecto quando observamos a tolice do cachorro em querer alcançar a pulga que morde o seu rabo, dando voltas em torno de si mesmo.