Comemoração pela reinauguração do prédio com 3 andares e o Supermercado Princesa no térreo, localizado na Rua Senador Vergueiro, 165 – Flamengo (RJ), comprado em 1932 pelo meu avô Manoel Jorge Gaio para lá instalar mais uma filial das Casas Gaio Marti e canalizar a renda da locação dos 6 apartamentos para expandir o atendimento aos necessitados assistidos pela Fundação Marietta Gaio.
Queria agradecer a presença de todos que aqui compareceram. Comecemos pelos mais velhos, a Fundação Marietta Gaio, a 8 anos de completar 100 anos (2032), aqui representada pelo presidente Kleber Cruz (50 anos de casa) e o diretor Artur Ferreira.
Aliás, hoje são 7 os proprietários do prédio da Senador Vergueiro 165: a Fundação Marietta Gaio, Danilton, Paulo e Jacqueline Lima, Manoel Jorge Gaio Junior e Odineia Rego e Antonio Carlos Gaio, por ordem de quem detém maior percentual de propriedade do prédio, embora todos mandem sem distinção.
Agradecer a presença de Laerte Monteiro, um dos proprietários do Supermercado Princesa. Para quem não sabe, já trabalhamos na mesma empresa, as Casas Gaio Marti, quando eu lá estive de 1966 a 1969, e Laerte era reconhecido como a maior revelação, indo de gerente a diretor num abrir e fechar de olhos. Meu pai vivia o drama de modernizar as Casas Gaio Marti, de passar de uma rede de armazéns para supermercados, mas já dava sinais de não ter forças suficientes (saúde precária) para organizar a transformação, optando por dedicar-se exclusivamente à Fundação Marietta Gaio, adquirindo um terreno em Bonsucesso com o dinheiro da venda de 50% do controle acionário das Casas Gaio Marti e erguendo uma sede à altura do porte da Fundação. E hoje eu e Laerte aqui estamos a comemorar a reconstrução de um prédio que levará o nome de meu avô enquanto a rede do Princesa já acumula 27 lojas.
Agradecer à Claudia Hauers que trabalha comigo recuperando e modernizando imóveis desde 2006 e dentre seus trabalhos mais notáveis se incluem o projeto de climatização da Fundação Marietta Gaio, trazendo como novidade o resfriamento do prédio e as placas solares, e a reconstrução do prédio da Senador Vergueiro 165. Agradecer à sua equipe (Rubinho, Carlos, Valmir, Leonardo, Jonatas e o falecido Tenório).
Agradecer à Adibras (Administradora de Imóveis) nas figuras de seu proprietário Alfredo Caldeira (25 anos de convívio profissional) e Mauricio Zanetti ao me municiarem com informações fundamentais e me ajudarem na difícil gestão de um prédio em obras em tempo de pandemia.
Agora quero vos informar que a nossa festinha aqui não é para tão somente comemorar a reinauguração do prédio da Senador Vergueiro 165 construído pelo meu avô em 1933. E sim para homenageá-lo, a Manoel Jorge Gaio, que empresta seu nome ao prédio daqui por diante, o que, aliás, ele não permitiria, se ainda estivesse entre nós, por ser um homem extremamente humilde e não apegado a homenagens, tanto que a Fundação leva o nome de sua esposa – e minha avó. O Meu Avô português, me permitam tratá-lo assim, merece que se ponha em relevo sua trajetória mista de negociante e espírita.
Nasceu em Portugal em 8 de março de 1874 e desencarnou em 6 de setembro de 1954, aos 80 anos. Provavelmente chegou ao Brasil por volta de 1890, aos 16 anos, conforme eu descobri no Arquivo Nacional na ata de fundação das Casas Gaio Marti, que data de 1898. Casou-se com Marietta Navarro Gaio, nascida em 22 de setembro de 1885, brasileira, de família espanhola, que se associou a ele na construção de uma rede de armazéns de secos e molhados – as Casas Gaio Marti -, inaugurando uma linha de venda de artigos finos do gênero de comestíveis e bebidas no Rio de Janeiro, no total de 20 lojas, nas quatro primeiras décadas do século XX. Comprava o terreno barato, construía a loja e mais um andar para o gerente morar e administrar, em tempo integral. Assim foi feito em filiais na Tijuca, Flamengo (Senador Vergueiro), Botafogo (Voluntários da Pátria e São Clemente), Copacabana e Ipanema, onde se concentravam as pessoas de renda mais alta no Rio. Foi crescendo pouco a pouco e fazendo fortuna porque teve a visão de se instalar na Zona Sul, onde ainda não havia nada, somente o areal. Além do mais, cuidava de tudo sozinho: comprava o terreno, desenhava a planta, construía os prédios de loja e sobrado para moradia, e era pedreiro – metia a mão na massa.
Manoel Jorge Gaio era um homem de muita visão e logo se converteu ao kardecismo, ao se aperceber de que a riqueza poderia ocasionar problemas por conta de uma brusca mudança na escala de valores e no resguardo de sua família, criando a Fundação Marietta Gaio em 1932, uma instituição filantrópica de caráter assistencial, e abrindo mão do controle acionário das Casas Gaio Marti por entre os gerentes e empregados mais eficientes e zelosos, apenas retendo 25% das ações em seu poder e 25% no da Fundação.
Pois bem, o espírito desse grande homem nos permitiu vencer o desafio que consistia na reforma da infraestrutura e das instalações de um imóvel, no mínimo centenário, sem garagem e sem elevador. A corrosão de anos a fio trouxe à tona inúmeros problemas difíceis de serem solucionados e quando eu e Claudia começávamos a nos inquietar, causaram estranheza os frequentes benefícios e soluções para a realização da obra que o Espírito de Meu Avô trazia de longe, jorrando em nossas mentes maior lucidez e clareza fruto de sua inspiração. Senão vejamos:
a) Obra iniciada em junho de 2020, ano em que a pandemia do Covid 19 se espalhou pelo planeta, trazendo muito risco à empreitada, embora sugerida por Meu Avô, soprada em meu ouvido, ao descer as escadas de minha residência, de manhã cedo, para andar nos quarteirões vazios e me exercitar em meio à invasão e contaminação desencadeada pelo vírus. Procurei ficar mais atento e a serviço de intérprete da Voz que sussurrava em meus ouvidos a missão que devia abraçar.
b) Com medo justo da pandemia, os locatários não quiseram abrir as portas para o engenheiro avaliar o montante das obras a serem realizadas, mesmo trajado de EPI (Equipamento de Proteção Individual). Cláudia Hauers encontrou a PSQ, um escritório de advocacia que viria a tratar de problemas com locatários e resolver outras questões jurídicas que foram aparecendo. As portas se abriram. O meu agradecimento às advogadas Diva Quaresma e Beatriz Serra.
c) Gestão essa que redundou na saída natural dos locatários devido ao incômodo com as obras. Um a um, sem fazer pressão, pois nunca foi nossa intenção, mas que facilitou extremamente o decurso das obras. Eu estava disposto a transferi-los, se houvesse aquiescência, para um hotel próximo, até concluir a última mão de tinta. Sem dúvida alguma, uma clara intervenção de Meu Avô chamando ao bom senso dos locatários, diante do caos provocado no prédio pela infiltração das águas das chuvas, em larga escala, em conjunto com a urgência das obras, a pandemia e o inerente risco de vida para todos que lá moravam ou trabalhavam.
d) Senador Vergueiro 165 nunca teve existência jurídica, nem havia sido organizado em condomínio, e muito menos tinha um síndico para administrá-lo. O prédio não carecia só de obras, precisava de gestão. De perícia gabaritada para inspeções prediais de modo a atender demandas que estivessem de acordo com o que existe de fato, o que facilitou a vistoria por parte da Prefeitura e a legalização do prédio. Meus agradecimentos a Barbara Loureiro.
e) O funcionamento do Supermercado Princesa não sofreu prejuízo, graças às negociações para a intervenção em conjunto terem sido extremamente facilitadas pelo passado de Laerte Monteiro, um dos proprietários do supermercado, que foi gerente e diretor das Casas Gaio Marti até sua venda para outra empresa do ramo.
Contudo, sofri dois infartos em 2021, quando foram implantados três stent com intervalo de 5 meses, dois no primeiro cateterismo e um no outro. Se eu não tivesse resistido, as obras teriam de ser interrompidas, transcorridos 9 meses de execução e sem a menor chance de continuar, pois nenhum dos outros proprietários iria querer bancar um edifício que estava sendo reconstruído.
Mas eu tinha avocado essa responsabilidade para mim, inspirado por Meu Avô quanto à missão que devia abraçar. O que me deu mais alento e forças para perseverar e manter-me à frente das obras.