Já lhe ocorreu ter circulado por alguns lugares e lhe parecer que já esteve ali em outros tempos?
Cruzar com pessoas que falam outra língua e, ainda assim, não encontrar barreiras, sentindo-as como oriundas de uma mesma família?
Alguém de longe se pôr a mirá-lo e encaminhar-se na sua direção, para se cruzarem e enfeixarem os olhares no disparar de um raio que ilumina os espíritos, impelindo-o a correr atrás e interceptá-la para desvendar o mistério? Independentemente de atração, pois magia é.
E se o vulto simplesmente sumir no meio da multidão e a troca de olhares se perpetuar na memória?
No meio de uma conversa ter a sensação de que aquele mesmo diálogo já aconteceu e agora se reproduz na íntegra? Se ocorreu, foi em outra dimensão.
Como que alguém do nada põe fogo num rastilho de pólvora e acende um conflito que leva a lágrimas convulsas, ao desespero, à acusação pesada de crueldade mental, em torno de: se devemos ir direto ao ponto ou se, dispersos ou perdidos, a viagem é além da imaginação nas ruas de Veneza. Pois se os canais cheiram a depressão que se apodera da noite através de seus becos e vielas mal iluminados, para imergi-lo num plano onde espíritos, mentes brilhantes e o mais comum dos mortais se entrecruzam à espreita de portais que se abram.
Como que alguém surge do paraíso da Toscana, onde o vinho rega a natureza, e você descobre que é seu irmão? A querer lhe orientar, ajudá-lo no que for preciso, a compartilhar suas experiências, se postar como um porto seguro, e a dividir o pão e o vinho como Cristo fez com os apóstolos.
Se pingüins se alimentam de flocos de neve como se doce fosse, o que faz mudar o humor de repente? O frio não justifica os meios em Verona, que enterrou Romeu e Julieta. Ao menor princípio a rigidez maior, seguida da hostilidade e provocação para retirá-lo da paz que invadiu seu coração. Onde o mar arrebenta, o vento tira os pés do chão e você abraça os nós, as contradições com que a guerra nos torna enfermos. E a estrada chega ao fim.
Como um vírus se instala numa indigestão provocada pelo fastio, trazido pelos ventos que açoitam os Alpes, e arranca a voz embargada pelo resgate de outros tempos, outras vidas?