Nascemos livres e puros
mas a vida vai construindo muros
que nos cercam e nos cerceiam
com nossas mãos cimentando as dores, o tempo inteiro.
Quando não temos pra onde escapar,
a dor preenche o nosso corpo
até nos dominar
e chega a um ponto tonto
em que não conseguimos mais detectar
quem é a dor e quem somos nós.
São muitos os nós de tensão nos músculos,
apertados laços e soluços
de tantos sustos que já viraram rotina.
Tumores de mal-humores que desatinam.
Desamor que não sabe voltar a amar.
Até que bum! Explode tudo.
Vira de cabeça pra baixo o nosso mundo.
E a gente também se vira.
O buraco no peito se abre
até o olhar atravessar a dor
e ver o outro lado de tudo
através de mim, de você ( , )
de quem chegou a esse fim.
A luz nos perpassa
e a gente dá graças a Deus por ela
porque foi por esta janela
que ela nos restaurou.
A nossa menina se reencontrou
com a infância mais pura
e assim termina a procura
da cura externa.
São as nossas pernas
que fazem a gente chegar lá
com a mente a se guiar
pelo nosso coração.
Como uma obra de arte
cujas queras e cacos da vida fazem parte inexorável
da beleza única daquele momento amável
daquela exclusiva criação.
Nós somos as Restauradoras:
restauramos auras e dores
costurando amores
e não estamos sós.
Juntas somos muito mais fortes:
desatamos nós.