Ele se aproxima sorrateiramente de três gêneros de mulheres: das desconsoladas que levantam polêmica sobre o dia-a-dia ser mortal para o amor; das covardes que sufocam na fonte o dom de amar; e das mandonas. Como quem não quer nada, com uma conversa que inspira confiança. O tempo passa, ela acabará cedendo para não perder o amigo e voltar a ficar só. Como se nada tivesse acontecido, ele transforma o amor em amizade. E assim vai, saltando de mulher em mulher. Iludido com o suposto sucesso, não se prende a nenhuma. Mas serve apenas como posto de reabastecimento. Ele tira casquinha da liberdade sexual alcançada pela mulher de hoje, se satisfaz com as migalhas.
São surfistas que tiram prazer da maior onda do mundo que não pára de crescer. A onda das mulheres que querem escolher seu homem, sem que ninguém dê palpite ou faça objeção ao escolhido – nem mesmo seus filhos. Porquanto aspiram sentir a variação de cheiros e da testosterona rasgarem o seu bom senso. Desembestar toda vez que for consumida em seus desejos inconfessáveis. E não fazer como suas mães, que pegaram logo o primeiro que passou pela frente.
Os canalhas se valem das marias que se sentem sós, as outrora virgens imaculadas perderam o poder de fogo na sedução e choram diante do fim dos sonhos de adolescente: abrir as pernas e fechar os olhos, mas para quem? Eis a questão. Afinal de contas, atração sexual não é como uma história que precisa ter início, meio e fim. A estima recíproca pode gerar um ambiente de camaradagem. Ele adora dar assistência às mulheres, deliciando-se em quebrar o tabu do amor livre ainda remanescente na cabeça desses matusaléns. Para, em seguida, ficar pastoreando seu rebanho com ar de orgulho. Se crê um ambientalista quando não mantém os pássaros na gaiola.
O fato de elas não o quererem mais não lhe causa nenhum embaraço, visto que já obteve tudo o que desejava: o banquete. Ao contrário, respira de alívio porque é mais uma que não precisa se envolver. Só se aproximaram do calhorda porque têm medo de amar e por ele não representar qualquer ameaça à pureza dos sentimentos que ainda pautam o feminino.
Ele é um amigo que não compartilha segredos, sempre pronto a sugar as mulheres. Quando não tiram proveito daquelas que têm uma vida razoavelmente organizada e abastecida, que levaram anos para atingir um equilíbrio infenso a sonhos de amor mal construídos. Eles funcionam como catadores de lixo à procura de restos humanos. Perderam a integridade no correr de fracassos que sucedem para testar nosso caráter e realçar as falhas, quando não para predominar e pontuar o percurso. E se tornaram vagabundos que não reconhecem o estado de indigência a que se entregaram ao se desgarrarem do sublime:
“Existem momentos que tenho sentimentos de amor por você que chega a doer. É uma sensação gostosa e, quando isso acontece, passo o dia todo com você na cabeça. Essa sensação toma conta do meu corpo e sinto arrepios. Muitas vezes, fico insegura, angustiada, resultado de interpretações que faço, e então me afasto. Acabo vivendo uma saudade enorme atrapalhada pelo orgulho de confessar o que realmente desejo. Quando isso acontece, não é gelo, nem desprezo, nem necessidade de me distanciar, mas sim instinto de preservação. Só que não adianta, pois o amor que sinto acaba sempre sendo mais forte e falando por mim.”