A expectativa relacionada ao boom na geração global de informação girava em torno da produção de novos conhecimentos, afinal, por conta do nosso imaginário louco, correm soltas as lendas sobre cérebros, o eletrônico a suprir o humano, pautado pela capacidade infinita do cérebro de acumular informações. Quanto mais aprendemos, mais somos capazes de aprender… e a humanidade acabou engolfada por um oceano de dados, se estressando, além da imaginação.
A neuro-cientista Suzana Herculano-Houzel lembra que as pessoas só prestam atenção a uma coisa de cada vez. Para cem janelas abertas no computador, só uma entra na memória. O eterno conflito entre o excesso de opções e a chance de encontrar algo que nos interessa. Entre os zilhões de espermatozóides para fecundar um mísero óvulo. O fato é que estressa e dificulta a concentração, quando não desvia do caminho correto a que se propôs.
Para o teórico de comunicação Sócrates Nolasco, cria-se uma sociedade superficial, em que se estimula a informação pura e simples, mas se perde a capacidade de argumentar, de construir idéias novas. O volume de informação disponível não é garantia de estoque de conhecimento. Donde se deduz que não necessariamente teremos respostas para as grandes questões.
Como aquele cientista da informática que sempre tirava férias em Salvador, pois a família de sua mulher era baiana. Detestava desde o cheiro do acarajé, passando pela cachaça, até chegar no calor que queimava sua fina pele. A aparência da moqueca não lhe causava maiores impressões do que sua mala abarrotada de livros… com cultura e informação. Quando um parente buscava saber o que tanto lia, mal balbuciava um raciocínio articulado, uma sinopse elucidativa ou um tema que atraísse o interlocutor. O professor Pardal deixava uma dúvida no ar quanto ao volume de informações ingerido não ser garantia de geração de conhecimento. Irrelevante informar que o casamento não resistiu à ação do tempo.
Como corolário, o refluxo se constata nos encontros e desencontros amorosos, nas amizades que vão e vêm, nos laços que fazem e se desfazem, na ternura que se dilui na facilidade com que o sal se impregna na comida, no efêmero que caracteriza nossas relações, na fragilidade a que estamos sujeitos nessa ordem unilateral imposta sob a alegação de que saberão escolher o que é melhor para nós.
Na ciência, o volume cada vez maior de informação disponível faz com que os pesquisadores se voltem para áreas específicas de conhecimento, se especializando. A contrapartida é a extinção gradual e segura da originalidade do livre pensamento, do que é singular e peculiar, restando a nós se deliciar com as músicas faladas de Gabriel, o Pensador.