Sem celular, e todos seus aplicativos conectantes,
fiquei muito mais conectada do que antes.
Psicólogos dizem que todos temos nossas neuroses,
mas essa, do vício no celular, é dose.
Em muitos casos, como o meu, overdose.
Ainda bem que aconteceu o imprevisto:
perder o celular e não ter como comprar outro.
Parecia que ele fazia parte do meu próprio corpo!
Mas não, nunca fez, e eu não sei vocês,
mas eu estou me sentindo tão leve
que consigo ficar muito mais entregue
aos momentos presentes
e escutar e ver de fato
tudo e todos à minha frente.
Sei lá. Essa coisa de não se desligar
das conexões virtuais,
das notificações desimportantes,
de mensagens irritantes,
nos faz perder muito tempo.
Tanto que só não lamento
o passado hiperconectado
porque sem ele não aproveitaria,
e não saberia o quão bom seria
ficar como estou agora
conectada comigo,
desconectada desse umbigo
virtual e chato,
desse mundo surreal e insensato
que gruda na gente como carrapato
e entra na nossa pele por osmose,
numa simbiose sufocante.
Eu não sei vocês, mas eu,
sem celular, e todos seus aplicativos conectantes,
estou muito mais conectada do que antes.