Sim, mora em mim
o dom da palavra,
mora em mim a sedução
e escrever com paixão
é meu abrigo,
mas eu não consigo
ser como escrevo.
Tudo que vejo e desejo
não rima, mas sempre
me ensina a ser paciente
e cada vez mais prudente.
Porque a vida não é poesia
que você escreve e apaga,
que você lê e te afaga.
A vida machuca, complica.
Você não deleta nada.
A dor fica, pinica.
A tristeza te alaga.
Por isso que sim,
mora em mim
o dom da palavra,
mora em mim a sedução,
mas o amor
não mora mais não,
e eu me sinto uma sem-teto
com preguiça de invadir
fazendas improdutivas.
Sou eu quem preciso
ser invadida.