Galinha Tonta é uma figura carismática sobre quem qualquer conterrâneo fala com a intimidade de um parente próximo. Por seu talento ao ter aprendido a falar em inglês, alemão e japonês. No transcorrer de sonhos iniciados aos 7 anos, quando sofreu um trauma sobre o qual se recusa a falar, e que o fez chegar em casa cabisbaixo. Foi dormir e recebeu a visita de três crianças: o inglês Paul, o alemão Hans e o japonês Toshio. No sonho, os quatro estavam numa praia e a areia era usada como lousa para ensinar os três idiomas ao menino, de origem humilde, que ainda engatinhava no português. Sonhos que perduraram até os 15 anos de um baleiro poliglota e que acarretaram estranheza dentre seus vizinhos ao ouvir palavras que ninguém compreendia. Parecia uma galinha tonta, indo de um lado para outro, sem se fazer entender por quem se aproximasse. Exceto quando foi ao Japão por 6 meses e por um padre alemão de sua cidade, São Francisco, no norte de Minas Gerais, que, atônito, perguntou para sua mãe se ela acreditava no dom do Espírito Santo.
As três crianças foram o anjo da guarda para compensar o trauma sofrido pelo Galinha Tonta e os guardiães do mistério dele vir a falar inglês, alemão e japonês. Um sinal claro para eu ver concretizado um desejo meu, que vem de longe, de falar todos os idiomas se existisse um chip de tradução simultânea em nossa memória, como já ocorre em sites da internet ou no Facebook.
Não é só um mero desejo de ver livro meu traduzido e lançado, por exemplo, na Alemanha (“Desconstruindo o Homem”) e na França (“Raízes Partidas”), como venho tentando, e sim de me expressar em língua estrangeira para melhor explicar o mosaico de temas, aparentemente sem nexo, sobre os quais eu me debruço, e como cada um se desenvolve de forma absurdamente autodidata e empírica. Defrontando-me com as portas fechadas em minha terra nativa, necessito desfazer o princípio de que a menor distância entre dois pontos é a linha reta. Impõe-se dar voltas ao mundo, multipartir-se ou não hesitar diante do labirinto.
Um sonho multilíngue não tão impossível de se realizar face à mudança na tecnologia nos surpreender a cada dia. Mas quanto a remover as barreiras da linguagem, nos aproximamos do desafio de ter que superar a balbúrdia da Torre de Babel, erigida no alvorecer das civilizações, mas que resultou em dividir o mundo em tribos formadoras das futuras nações, apartando-as irreconciliavelmente. Pois o planeta Terra tornou-se pequeno demais para tanta querela e os mares nunca dantes navegado se encheram de lixo, convertendo-se num dilema que, se não nos conscientizarmos de que somos autóctones do mesmo planeta, estaremos sujeitos à extinção. Se Marte ainda não chega a ser uma solução, mais razoável seria desconstruir o homem face ao acúmulo de raízes partidas vir tornando o planeta num astro desgovernado.
Senão será preciso, mais uma vez, a intervenção do Espírito Santo. Ou mesmo da Santíssima Trindade.