Ninguém encarna nesse mundo para não ser amado, seja qual for o sexo. A raça humana é de uma tamanha precariedade que nos faz radicalmente dependentes um do outro. Primeiro para sobreviver, depois para viver dentro de um quadrado, de preferência com alguém que nos ame de verdade. Só depois de passar por essa experiência, pelo menos uma vez na vida, é que se consegue entender o real sentido do amor e concluir por nunca mais amar dessa maneira, se em desastre resultar.
Muitas mulheres já abriram mão do amor romântico – o amor que excita e completa, se compartilhado. Por desencanto ou falta de parceiros dispostos a interagir. Saturadas do lesco-lesco que transformou o amor em rotina e o marido preferir a secretária. Respondem com demasiada virilidade no mercado de trabalho ao incorporarem o estrito senso da competitividade fálica.
Abrindo caminho para homens que não suportam o mal-estar com o desencontro, a exigência de respostas rápidas e vínculos descartáveis traçados por “ficantes” e “peguetes”. A constatação do fim da cara-metade.
A incompletude gera a castração e eis aí o assexuado.
O assexuado não gosta que o mundo gire em torno do sexo. É muita exibição e pouco conteúdo. Como parte do princípio de que falta verdade nesse mundo de ilusões, desiste do negócio. Não se escandaliza com jovens que o acompanham na inaptidão e pensam igual, declarando-se virgens.
Não há que perder tempo com essa história!
O assexuado se cansou de ver relações fracassadas ao seu redor. Esgotou-se com a hiperatividade das cobranças das mulheres pós-modernas. Exauriu-se com a vulgarização do amor. Nega que a tentativa de viver junto é uma exigência humana. Perdeu o tesão pela vida e, a ter de se suicidar, preferiu tornar-se um burocrata. Um leva e traz. Diluído em telefonemas inúteis. Pregado na cruz do mais irrelevante dos seres.
Há uma tendência em confundir os assexuados com gays. Em virtude de o homem viver sob o cutelo entre se exercer como heterossexual, através do pênis, cruzando com a mulher, ou se debater no mar de pernas até broxar, restando o Viagra como tábua de salvação. Não existe um caminho do meio. Se ficarem sem opção é porque perderam seu paradeiro. O interesse e a coragem em abordar. Logo a maioria silenciosa porá a culpa no seu falo: “Não é o seu forte, se não sabe chegar junto”.
Os assexuados vivem sob a pressão de serem expulsos do purgatório e terem que sair do armário, pois o sexo é natural. Não se pode afrontá-lo, ignorando-o pura e simplesmente. Salvo se desviar o amor para uma finalidade que transcenda nossa existência. Caso contrário, o assexuado é o próprio rebelde sem causa! Ao não se sujeitar a amar quem a vida lhe põe no caminho, por quem sente atração mas renega com o rabo entre as pernas, tomado pela cor do burro quando foge.