O afluxo à Alemanha dos refugiados muçulmanos sob pressão de guerras e assassínios perpetrados pelo Estado Islâmico, a que se somaram os últimos atentados cometidos na Baviera, levou ao efeito inverso: o aumento do interesse pela religião cristã de pessoas que antes professavam o islamismo. Medido pelos que lotam as igrejas católicas e luteranas interessados em se batizar. Embora em alguns de seus países de origem a conversão seja vista como um delito que pode ser punido até com a morte.
Muitos dos convertidos desistem do batismo na última hora com medo de pôr em risco a vida de seus parentes que não quiseram ou não puderam emigrar – podem ser alvos de represálias. O mais alarmante é o fato de que há também refugiados cristãos que fugiram da perseguição e discriminação de que eram vítimas por sua religião em seus países árabes de origem.
A mais curiosa das contradições é que muitas dessas igrejas estavam ameaçadas de fechamento pela evasão dos fiéis, causada pelo crescente ateísmo e consequente perda de fé em seguir os caminhos de Jesus Cristo. Os clérigos agora veem como uma nova chance de compensar as perdas dramáticas de seus membros nos últimos dez anos com as ovelhas, senão verdadeiros rebanhos de organizações muçulmanas, que aderem à chamada religião cujo símbolo é a cruz, na visão islamita.
Traumatizados pela guerra e pela fuga, a maioria encara a nova religião como a perspectiva de uma vida melhor face ao fundamentalismo e à brutalidade do Estado Islâmico ou dos talibãs terem desenvolvido uma aversão contra a própria identidade cultural, da qual se julgam vítimas.
Os islâmicos cresceram na crença de pertencer à melhor religião do mundo, mas começaram a se questionar depois que, em nome de Maomé, foram cometidos tantos atos de violência e de beligerância, aflorando o interesse de verdade em se integrar à sociedade alemã, de modo que lhes propicie novos horizontes.
Muito parecido com o pragmatismo dos judeus que, em Portugal, se converteram maciçamente ao cristianismo sob a alcunha de cristãos-novos, em face das campanhas de pregação no século XV, já sob o signo da Inquisição. Só que, altamente educados e letrados, os judeus tornaram-se bispos, abades, consultores do rei e, num espaço de 50 anos, competiam com os cristãos antigos para abocanhar cargos políticos, eclesiásticos e administrativos no Reino português. O que implicou no êxodo dos cristãos-novos movido pelo fanatismo religioso, que perseguiu, violou, torturou e matou centenas de pessoas acusadas de serem judias, no episódio conhecido como o Massacre de Lisboa, em 1506, e que levou muitas famílias a abandonar Portugal e seguir para os Países Baixos, Constantinopla, Norte da África e Brasil.
Será esse o destino dos cristãos-novos oriundos do islamismo?