Se, à primeira vista, o desejo é o elo que tange o relacionamento para mais adiante, não podendo ser rompido em hipótese alguma, sob pena de o amor virar fraternal, por que não propor um desejo mais às claras?
Onde o império é o do desejo, a tônica é o prazer e o que pesa na balança é o tesão. O que importa é ambos ficarem felizes quando se fecham na sua intimidade, onde tudo acontece sem tabus, sem medos, sem preconceitos. Se tudo pode e a culpa é inteiramente da atração física, da pele, do cheiro, dos beijos, do enrosco, do amasso, do abraço de urso, fazendo vibrar como nunca conseguiram antes. Ao nome que dão ao que sentem, nem ligam!
Esse é o meu homem, o meu macho, o meu dono! Essa é minha mulher, ninguém tasca, é a dona do meu coração!
Há quem considere impossível a entrega total, sem limites. Cabe somente em literatura pornográfica, na luxúria do cinema e nos sonhos onde o desejo explicita o que quer e você acorda sobressaltado: o tesão não morre com a falta de entendimento ou de afinidades?
Se morrer é por falta de uma sexualidade mais intensa de amor para matar as desinteligências. De preocupados como o amor devia se comportar e com sua nobreza. O medo de o amor acabar tira a naturalidade da fissura que chega sem dar aviso, indiscriminada e sem vergonha – o cio recíproco.
Antes de somarem os corpos em um, alimentando apenas o que a antropofagia manda, por ser visceral e arrancar suas raízes, o sexo, nessa dimensão, pode ser considerado como uma das manifestações mais sublimes do amor? Que até evoca a pureza mais recôndita? Mais sagrado do que o conduzido pelos princípios? Mais legítimo por demandar que se prove na agrura do cotidiano, continuamente? Por que então o descrédito atribuído por impor-se o carnal ao espírito e aí se apequenando na grandeza das filosofias que esvoaçam no firmamento? Apenas por se manifestar num tempo finito e depois se desfazer, deixando viva na memória uma utopia, provavelmente produto da imaginação, que virou lenda?
Mas se a lenda é motivada pela busca do prazer, infantil ou adulto, em que animais e humanos se misturam numa fábula que nada é mais do que expressão da vida, onde sexo é amor e reproduz. Incontáveis histórias que nos proporcionam prazer. Subtraindo aquelas em que o sexo transbordando de desejo não foi suficientemente vigoroso para sustentar uma relação de amor.