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SHOWMEN

Enquanto o raptor se dirige a contragosto para o presídio encerrada sua aventura, Silvio Santos terá de ficar confinado em sua residência para não correr o risco de ser seqüestrado de novo, como prêmio à sua postura humanitária de Robin Hood. Em liberdade condicional, proibida as escapadas noturnas, terá de reforçar a segurança da casa com um exército particular que o obrigue a não mais sair sozinho de casa, como se fosse um menino irresponsável que pensa que pode fazer tudo e chegar na hora que bem entender.
Não basta carro blindado, sirene e alto-falante espanta-bandido, circuito de vídeo e alarme ligado a uma central de segurança. Há que saber distinguir entre porteiro, vigilante e segurança. Que o muro de sua residência seja tampinha ainda vá lá, mas não eletrificá-lo com arame farpado corresponde a uma falta de contato com a realidade imperdoável, quando se sabe que todos os ricaços, e projeto de, já incorporaram essa tecnologia avançada e brilhantemente empregada pelos nazistas, que mal desconfiavam do acerto de sua invenção na evolução da humanidade. O Rio é o que é no combate aos bandidos disfarçados de polícia militar, polícia federal, forças armadas e carteiros, porque já gradeou todos os apartamentos e casas, a ponto de seu governador ditar cátedra ao Alckmin de lá, alimentando uma rivalidade que agoniza nos fracassos da seleção brasileira.
Silvio Santos conhece esse povo como a palma da mão, bem assestado em uma família crente à Igreja Nova Vida, embora sendo judeu. Por ter sido camelô em suas origens, fato do qual se orgulha, tanto que criou uma rede de televisão popular com seu Show do Milhão que oferece a chance da casa própria ou a quitação das dívidas. Acredita ser imune a assaltos, bastando acenar uma nota de 100 reais para negociar o relógio roubado e garantir que está acima das feras que pulam de galho em galho em nossa selva.
Ele se esquece que ficou rico, digo, milionário. Enquanto outros continuam pobres, mortos de fome, miseráveis, trouxas, explorados, por conta de uma corrupção que desvia recursos da educação, segundo a pastora Patrícia Abravanel. Corrupção essa que fez com que o povo acreditasse no caçador de marajás e o pusesse no poder em eleições que Silvio Santos esteve por disputar e em cima da hora desistiu.
Pena que não tivesse conselheiros do naipe da pastora na época. Não teríamos vivido um final de século em plena liberdade de expressão e corrupção que abortou uma geração shopping center nas urbes losangelizadas que botaram fé em “tudo aquilo ainda pode ser meu”. Teríamos investido mais em educação, aumentado a capacidade de discernir o mocinho do bandido, e elevado o nível da programação de TV, sem apelar na formação do elenco de novelas para casais de atores por se formar ou se desinformar na vida real, a fim de que sejam testados na ficção e o público acompanhe para que dê seu veredicto, confirmando o sucesso da manipulação.
Já teríamos definido o que é ser alfabetizado. Se basta ler Caras, escrever cartas para a mãe no Maranhão, se o que diz e alinhava não faz o menor sentido, se o fraseado esbarra em muros intransponíveis da expressão, não entendendo bem das ciências, da química das coisas, só porque urge apanhar o canudo e ser advogado de porta de cadeia, glamurizando a obra de um bom menino de 22 anos, incrivelmente rápido nos 13 tiros que atingiram e vitimaram os dois policiais em busca do estrelato. Transformando-o no Homem-Aranha ao descer 9 andares nas patas, de inteligência fora do comum, o mais ambicioso de 6 filhos no seio de uma família evangélica, o showman mereceria trocar de lado e incorporar garbosamente qualquer dos inúmeros grupamentos fardados que nos protegem com tanto zelo.
Todos quiseram ser heróis negociando a rendição sob a mira a laser dos atiradores de elite, menos o governador de S. Paulo que foi à mansão de Silvio para evitar que matassem seu governo e a carreira política promissora que tem pela frente.
Todos quiseram ser estrelas tirando partido do seqüestro e competindo com o raptor, vulgarizando o perdão em nome de Deus, enquanto o voto de cabresto, obliterado e corrupto, perdura em nossas plagas provincianas, através do atendimento à população carente por entidades sociais mantidas por coronéis parlamentares que recebem verbas do município, e dirigidas por parentes não importando o grau consangüíneo. 
Teria sido melhor acabar com essa tragicomédia e começar da estaca zero, realizando o sonho de morar nos Estados Unidos para ser entregador de pizza.

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Antonio Carlos Gaio
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