Eliane Lage tinha tudo o que uma mulher poderia querer na vida. Foi criada aos cuidados de uma governanta inglesa, um mordomo espanhol e uma professora de piano russa. Nascida na família Lage, uma das mais ricas do país, que dominava o transporte marítimo e a exploração do carvão e sal entre o final do século XIX e o início do século XX. Bonita como uma modelo, em 1953, estrelou no filme “Sinhá Moça”, uma superprodução da Vera Cruz, dirigido por seu marido anglo-argentino e cineasta, Tom Payne – tornou-se um sucesso. Nos anos setenta, deixou tudo para trás. Marido, três filhos e qualquer ligação com a fama e a fortuna, para se refugiar em Pirenópolis, cidade histórica de Goiás, depois de tentar se isolar em Alfenas, Tiradentes e Olinda. Até como consequência da falência de sua família, outrora tão poderosa que o patriarca Tonico Lage abriu uma conta em Paris para ajudar Dom Pedro II no exílio, de modo ao imperador manter seu padrão de vida. Em retribuição, o monarca o presenteou com um anel de safira, sacado das joias da Coroa, que, posteriormente, Eliane veio a herdar e repassar a seu filho, ao invés de uma de suas duas filhas. Com a notória insensatez dos jovens, ele vendeu para comprar um som legal. O que dá bem a medida de Eliana Lage não manter-se apegada ao passado de ex-milionária para não perder tempo com ilusões baratas e inutilidades. E hoje, aos 84 anos, viver os melhores momentos de sua vida. Quando pode ser ela mesma. Imagine se iria repetir sua avó, que se trancou num quarto em Paris para que ninguém visse as rugas avançando em seu rosto e consumindo-a.
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