Há quem goste de se ensaboar todo a ponto de desligar o chuveiro para vasculhar os recônditos rincões do corpo, esfregando, lixando e espanando a sujeirada encruada no contato com eu, tu, eles, que nos obrigam a ensaboar mais e mais para se tornar um sujeito escorregadio.
O DNA humano foi decifrado e abre um novo portal na ciência, conquista comparada à anestesia geral, mumificação, sabonete. Os cientistas chegaram ao primeiro rascunho do genoma, o alfabeto do homem que diz quem ele é. Agora só falta pôr as letras na ordem certa e escrever as frases que redundarão num ser humano remoçado por uma alfabetização condigna de uma espécie que não estimule suas feras domésticas abocanharem pescoços de crianças.
A descoberta porá em xeque a terapia de vidas passadas e o kardecismo, porque existem genes loucos para denunciar os velhos mistérios da fatalidade, do catastrofismo e do apocalipse em atos e fatos determinados pelos instintos básicos que, às vezes, nos levam a pensar o que nossos pais fizeram conosco décadas antes, que culpa tenho eu para carregar os desatinos de nossos ancestrais? Certo é o fim às doenças incuráveis e aos efeitos colaterais, alargando a duração de vida, incerto é para fazer sabe-se lá o quê. Talvez identificar suspeitos de crime com mais precisão e nariz de Pinóquio em políticos cujo limite é o céu.
Já que o DNA humano guarda os segredos sobre passado, presente e futuro, que tal começar pelo despejo de lixo químico em aterros clandestinos visitados por pais à cata de restos de alimentos? Enquanto Ivanete, de 1 ano e 5 meses, ingeria cianeto na brincadeira de gato-e-rato entre prefeito, elite e miseráveis. O que dizer do cantor Rafael, ex-líder do grupo Polegar, internado depois de engolir duas pilhas de tamanho médio? Anteriormente, o objeto da gula se concentrara em uma pilha, três isqueiros e uma caneta, gosto adquirido e desenvolvido no lixo da mídia. Provavelmente para não ser obrigado a tomar a mesma atitude que os traficantes de drogas do Morro do Cavalão. Cansados de serem achacados pelos policiais que ocuparam a favela, ordenaram aos moradores que telefonassem para o disque-denúncia. Mas que outro comportamento eles queriam da polícia, se assaltam o campeoníssimo Romário, a esfuziante Claudia Raia e até o bicheiro Luizinho Drummond? Mas quem manda esses novos-ricos andarem por aí com seus Cherokees, Rolex e celulares? Pior é ficar entre a cruz e a caldeirinha, como o camelô confundido com traficante que obrigou a polícia a mascarar seu erro, seqüestrando-o para exigir da família um módico resgate.
É por isso que o amor não é mais lindo e só constrói. O casamento de Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones corre o risco de melar por não chegarem a um acordo sobre as bases de um futuro divórcio, deixando ela angustiada ao ver a barriga crescer e o vestido de noiva se rasgar de ódio, por não estar à cata de fortuna. Mas como qualquer um de nós, mortais, também não quer ser lesada!
Sobre amor, quem pode dar as cartas é Carlinhos Brown, numa saia longa brilhante em desfile de moda: “O preto básico é desculpa para quem não sabe se vestir. No fundo, é o mesmo desafio: tirar o preconceito dos homens, do mesmo homem que tem medo de amar uma mulher só. Fui criado numa sociedade machista e, para mim, ser homem é acariciar sua mulher, é gostar de mulher e não ir para a delegacia feminina acusado de abuso ou violência. Usar saia é dizer não à colonização. Uso saia porque vivo num país tropical e na hora de fazer amor é mais fácil.”
Embalsamemos Adão e Eva, anestesia geral na veia, para ingressar no novo alfabeto, inteiramente nus, limpos de pecado, e começar tudo de novo, comprometidos com uma história de amor de verdade. Não dá mais para aturar sermos filhos bastardos frutos do acaso.
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