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SÓ MESMO O LOBÃO PARA NÃO VER QUE, JUNTO COM BOLSONARO, NÃO PODIA DAR CERTO

Lobão abraçou o bolsonarismo durante a campanha eleitoral em 2018, não sem em 2014 afirmar que deixaria o país caso a presidenta Dilma Rousseff fosse reeleita e posteriormente ter defendido a recontagem dos votos e difamado Chico Buarque, Caetano e Gilberto Gil – pura inveja de suas posições libertárias e humanas. Durante a ditadura militar, levou uns tapas da polícia torturadora e foi preso porque fumava maconha em seus shows, originando a suspeita de ter contraído a Síndrome de Estocolmo, misto de identificação e afeição pelo sequestrador ou torturador, onde couber, fazendo jus à alcunha de “Lobo Bobo” (música de Lyra e Boscoli). Até que resolveu se afastar da discussão política, rompendo com o bolsonarismo, a ponto de gravar músicas de seus desafetos, pilares da genialidade artística brasileira. Se formos nos basear no Lobão arrependido (ele nega) de seu posicionamento como interlocutor de Bolsonaro, dá para se ter uma ideia de quão tosco, limitado e abjeto é o bolsonarismo. “Não penso mais em mudar o país” (quem ele pensa que é?); “não tenho mais paciência para lidar com o fanatismo da polarização, é uma cegueira dos dois lados” (só porque recentemente releu Proust?); “há um timing moral para deixar Bolsonaro e fazer autocrítica” (4 meses, no caso dele), alijando do seu convívio o Roger do Ultraje a Rigor (como se fizesse diferença). Embora mantenha todas as suas críticas em vista de que são pertinentes, apesar de reconhecer que o seu meio profissional o boicota e que o seu jeito de se achar o tornava destrutivo, a despeito de se considerar curado como psicanalisado. Tem-se Lobão como medianamente inteligente e sensível, no mínimo, muito em função de seus grandes sucessos, como “Me chama”, “Blá Blá Blá… Eu te amo”, “Vida Louca Vida” e “Corações Psicodélicos”. Aos 64 anos, não pretende votar nas próximas eleições, depois que revelou seu pensamento político pari passu com Bolsonaro e julgar ser possível apagar o seu passado político, antes que desabe sobre sua cabeça o restante da inconsequência de seus atos. É o que se espera um dia acontecer com o gado bolsonarista, desaparecendo na poeira do estouro da boiada, indo cada um para o seu confim, quando se vir órfão.

Antonio Carlos Gaio:
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