É o maior presente que um homem poderia receber de uma mulher ao ouvir esse verdadeiro veredicto:
– Sou mulher de um homem só! Eu pertenço apenas a você! Eu não sou de mais ninguém. Sou fiel até a última ponta do cabelo. Quando eu gosto, não me interesso por mais ninguém.
Isso um dia já existiu. Quando nos tempos das bisavós, ele se apaixonou por ela, ao surpreender-se com sua expressão e com tudo o que dela emanava da janela de sua casa, debruçada sobre o parapeito. Uma bela moça de olhos verdes que, no entanto, nunca lhe sorria quando por lá insistia em passar. Reiteradas vezes. Mas como ele sabia o que bem queria, não desanimou por ela não abrir o botão em pétalas.
Tenho direito a um mínimo de prosa? Ela deu com os ombros. Algumas perguntas banais para não assustá-la. E assim foi minando sua desconfiança. E ela nada de convidá-lo para uma chávena de chá com pão de milho feito por ela mesma. Enxotava seus pais da sala para não ouvirem a conversa que vinha da rua. Não tinham nada que se meter. Até que um dia o viu partir num trem que passava defronte de sua janela. Ele avisou que voltaria em breve. Isso lhe causou um temor perante um futuro incerto, que tirou seu sono. Ao seu retorno, casaram-se e viveram em perfeita harmonia até completarem 60 anos de união, quando ele subiu ao Céu e ela ficou ao léu, morrendo em vida, de solidão, ao cerrar a janela. Apesar dos maus-tratos do tempo, ainda havia pretendente. Um candidato rico que, à época, ficou a ver navios, desolado com sua opção. Mesmo tendo se mantido solteiro, recebeu um não na cara: “Sou mulher de um homem só”.
Mulher de um homem só, um ser tão raro hoje em dia, a caminho da extinção. Provocando uma dor profundamente nostálgica nos estertores do homem. Pois tem gravado de outras vidas o compromisso indissolúvel com a mulher de um homem só. A tradição, família e propriedade, sempre presente na alma do homem.