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SUA MÃE JÁ ARRUMOU OUTRO NAMORADO?

O casamento é uma forçação de barra para extrair algo duradouro de um acidente de percurso movido por uma fé inquebrantável de construir o futuro já. Como se de posse de uma bússola a agulha magnética apontasse sempre na mesma direção, a revelar um milagre indecifrável pelos cinco sentidos humanos, cuja atração não se expressa com palavras e ajuda a montar um imenso castelo de cartas com que inicia a brincar de amar.
A física de Newton, de sólida e estável, virada pelo avesso por Einstein, que demonstrou a existência de um mundo invisível repleto de moléculas e átomos em colisão constante, num ziguezague aleatório: tudo é relativo no amor. Soou bem aos ouvidos de quem clamava por uma chance de ser feliz nessa vida. Ao propor uma nova forma de enxergar o universo, que repercutiu nos relacionamentos e rompeu com os padrões de concepção da mente humana, ao cavalgar um raio de luz a explorar a tridimensionalidade que limita o mundo em altura, largura e profundidade. Mas que não ajudou a descobrir por que todos procuram inexoravelmente casar se cada vez mais sabemos menos por quanto tempo ficaremos juntos. Pois ficou ultrapassado afirmar que “se vivo com meu marido há 30 anos e não confio, em quem mais posso confiar?”
Esquizofrenia pura, que leva as mulheres a se separarem da inteligência e conhecimento de gênios cuja estatura não escapa ao buraco negro. Sua luz própria é sugada quando leva seus filhos à pizzaria no domingo à noite e pergunta: “sua mãe já arrumou outro namorado?”. Seguido de uma ligação no celular de sua namorada, tornando constrangedora a tentativa de controlar a quem o despachou para ir de encontro a quem caiu na esparrela do homem com alma de carcereiro.
Em outros tempos, a ex-esposa não teria moral para mandá-lo lamber sabão, o correr das horas conspiraria a favor dele recuperar sua cota de amor nesse latifúndio e, ainda, a pretexto de visitar os filhos, esperaria eles dormirem e a tornaria sua amante – como se ela não pudesse mudar o seu destino.
Apesar de elevar demais a auto-estima, sua arrogância é até interessante pois seu perfil elegante e educado define um pai presente e politicamente correto. Procura construir-se para ser aceito socialmente em função do apelo do meio em que transita, de fora para dentro. A fim de se refugiar na ilusão de reter as mulheres em sua companhia. Julgando que agrada incondicionalmente. Torcendo o nariz para quem escapar de suas mãos. Fazendo uso de sua influência em benefício próprio ao se valer de namoradas, filhas, irmãs e mãe.
Não perfila um quadro, apenas um esboço de si mesmo, ao desconhecer, por completo, que se possa olhar para uma mulher além de sua personalidade. Até que encontre um relicário perdido de onde se aperceba uma consciência que supera as diferenças que o impedem de se aproximar e transcender a compreensão humana. Se os opostos se atraem e são faces da mesma moeda, a bipolaridade do homem e da mulher, o yin e yang, o positivo e negativo, o céu e o inferno, só podem se ajustar e adequar na profundidade do nosso universo tridimensional.
Essa mulher nem consta de seu imaginário, afinal, não é para qualquer um. Mas se fosse colocado diante dela, a interpretaria como mulher de ninguém. Seria uma puta, a não ser que lhe pertencesse. O tutor de sua liberdade. Fazendo jus que se apagasse os preconceitos atribuídos a ela, desde que consentisse em ser sua posse.
Mas isso é miragem, tanto que não apareceu um pretendente à altura para sua ex recompor a vida conjugal. É no que acredita. Para não duvidar de si próprio.

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Antonio Carlos Gaio
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