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TALENTO É O QUE CONTA

Era para vingar e virou freguês. Pela terceira vez. Em 86, no pênalti perdido por Zico. Em 98, no piti de Ronaldo. Em 2006, no técnico travado cuja língua de iguana é a viva voz da sua emoção. A França, que celebrizou a guilhotina, se converteu no maior carrasco do Brasil. Tanta vingança nos corações e mentes para o Brasil morrer abraçado a quem mais odeia: a Argentina. Bem que Pelé estava com um mau pressentimento mas, fora do campo, ninguém confia em sua sabedoria. Vergonha não foi a derrota e sim a falta de tesão que contaminou até o Ronaldinho Gaúcho.
Zidane mostrou quem é o melhor do mundo e que a conquista do título em 98 não se deveu só às convulsões de Ronaldo. Os brasileiros vão ter de engolir que a França pode cantar de galo – seu símbolo. Les bleus carimbaram a qualidade de sua geração na arrogância e presunção da nossa vingança.
O que Roberto Carlos estava fazendo, agachado na meia-lua, para deixar Thierry Henry à vontade para marcar o gol da França? E o Cafu, preocupado com a glória de seu percurso de vida? Aberto o caminho para Ronaldo se aposentar e jogar futebol nos Estados Unidos, tornando-se um cidadão itinerante no mundo e uma marca como Pelé. Celebridades que não vestiram a camisa. A valorização do seu futebol nos gramados europeus afastou-os de sua origem. Uma manobra bem urdida pelos donos do circo para entorpecer nossos astros e não perder outro campeonato em plena Europa.
Os franceses deram um nó na nossa criatividade, que não conseguiu deslanchar. Tirando Dida, Lucio, Juan e Zé Roberto, todos pareciam anestesiados. Onde já se viu precisar motivar o jogador para disputar Copa do Mundo? Faltou atitude dentro de campo, o que, no linguajar do torcedor, significa raça. Saudades da garra do Felipão, porque Parreira, como gestor de talentos, está mais pro futebol feio e retrancado de 94.
A seleção canarinho refletiu a postura do técnico Parreira. Imobilizado, sem ousadia, racional a ponto de ser chato, apologista da repetição, despreparado por só pensar na final. Não botou ninguém pra frente, a síndrome da depressão. Se tivesse ouvido Thierry Henry sobre a infinidade de talentos que surgem no futebol brasileiro:
– Quando era pequeno e estudava das 7 às 17 h, pedia para meu pai me deixar jogar bola depois. Ele me mandava fazer o dever de casa. No Brasil, as crianças jogam bola o dia inteiro e ninguém fala nada. Basta pôr os pés na rua que, onde tiver um espaço vazio, todo mundo bate uma bolinha e faz embaixada. Nas favelas, nas praias e até em beira de estradas. Vem do berço. Não dá para competir.

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Antonio Carlos Gaio
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