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TEMPO É DEUS

Quando nascemos, geralmente temos tempo de sobra.
E não sabemos que ele é medido em pequenas porções chamadas de segundos, minutos e horas.
Estamos longe de conseguir captar o que significa um dia, uma semana, um mês, um ano.
Vivemos apenas no momento presente.
Todo tempo é agora.
Quando vamos crescendo, vamos aprendendo a separar o tempo em fatias.
E, ao mesmo tempo, vamos desaprendendo de viver apenas o hoje.
Começamos a esperar pelo final de semana, em que não tem escola.
Pela noite, quando os pais chegam do trabalho.
Pela hora do recreio.
Então cultivamos a tal da ansiedade, esperando o final do ano chegar, trazendo as férias. Depois ansiamos pelo resultado do vestibular ou ENEM, pela resposta de trabalho, pelo resultado do exame de gravidez, pelo dia do casamento, pelo Carnaval.
Chega um tempo em que já vivemos muitas ansiedades e preocupações e começamos a cultivar uma nostalgia ou arrependimento pelas coisas que fizemos no passado e, mais uma vez, não estamos no momento presente.
Até que, para aqueles que chegam nesse estágio, chega uma hora em que já vivemos tanto e temos tanta tralha na memória, que ela passa a não ter mais espaço para novidades e cada novo segundo passa a ser todo o tempo de vida que nos resta, tudo o que vale a pena lembrar, além daqueles momentos marcantes da juventude que estão tão, tão distantes de hoje. Quando os reflexos do corpo já não funcionam com rapidez e a simples tarefa de existir nos demanda um esforço tão tremendo que só mesmo estando 100 % focados no aqui e agora para conseguirmos dar cabo do próximo passo, da próxima respiração, da palavra da hora.
É estranho como quando na maior parte da nossa vida, quando ainda temos energia e dominamos nossos movimentos e mentes, e já não somos mais as inocentes e ignorantes crianças, usamos o tempo de maneira tão burra e inconsequente. É como se só quem é bem criança e quem é bem velho soubesse dar valor ao tempo diante de si.
Sei lá, eu não sei de quase nada nesta vida, mas tenho cá meus pensamentos. E um deles que sempre rondou minha mente e, de uns tempos pra cá, parece aumentar cada vez mais, é essa sensação de que tempo é Deus. E por melhor que possamos medir e identificar o tempo, ainda estamos muito longe de entendê-lo, se é que um dia o faremos. E isso me remete à ideia de tempo em outros planos e dimensões, mas este já é um assunto para outro artigo. Por hoje é só.

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Mariana Valle:
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