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TENDÊNCIA INATA AO MAL

O que se espera das Forças Armadas brasileiras que comandaram a ditadura de 1964 a 1986, desonrando suas tradições como agente do terrorismo de Estado numa tentativa infrutífera para acabar com a raça do esquerdismo? Confessar à Comissão da Verdade como o fez o general Videla, de 86 anos, sabendo que não tem mais futuro, às vésperas do Juízo Final, perante os encomendados voos da morte quando prisioneiros eram levados meio sedados para aviões e de lá despejados sobre o Atlântico ou o rio da Prata. A figura do desaparecido era cômoda, não provocava o impacto de um fuzilamento público para evitar que a sociedade percebesse e os juízes pronunciassem sentenças de morte e fossem perseguidos – o acobertamento e a dissimulação. Foram quase 9 mil cidadãos que morreram para vencer a guerra contra a subversão e disciplinar uma sociedade anárquica, saindo de uma visão populista e demagógica para uma economia de mercado e liberal – igualzinho ao golpe de 64 quando o Brasil se antecipou ao Chile, Argentina e Uruguai, tornando-se anos depois o mentor da Operação Condor. Alguns dos contemporâneos de farda criticam Videla por ter aberto o bico. Outros já suspiram aliviados. Restando, como mórbido saldo, o sequestro e roubo de uns 500 bebês de presas políticas que, na sua maioria, estão desaparecidas. Inspirado na ditadura espanhola de quase 40 anos do general Franco como forma de repressão às republicanas presas e para justificar uma teoria de regeneração da raça espanhola desenvolvida por psiquiatras militares: mulheres que faziam da política sua atividade mater tinham uma tendência inata ao mal. Dando margem ao crime organizado do qual participaram religiosos, hospitais, profissionais da saúde e cartórios, e que se expandiu para pôr as garras em filhos de mães solteiras, muito jovens, grávidas de gêmeos e com grande ninhada, a título de melhor redistribuição. Não se pode esquivar de certos males por existirem fatos que os precipitaram, atendendo a propósitos que no futuro terão de ser passados a limpo. Ultrapassado o holocausto, há que reabrir a ferida para examinar se o câncer se transformou em metástase e o paciente não tem cura. Se negar ou fugir da busca pela verdade, o silêncio falará mais alto. Como se fosse a própria confissão.
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Antonio Carlos Gaio:
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