– Tenho um gênio de cão.
– Mas, aqui, no plano espiritual, você não vai precisar desse gênio. Deponha seu cetro e coroa e desapeie do trono. Do seu orgulho. Dispa-se do seu ego.
Por que não começar agora? O fato de o gênio de cão ter vindo ao mundo não exatamente do jeito que gostaria não lhe dá o direito de vociferar contra o Criador. Mesmo porque isso não mudará em nada a sua essência. Não dá pra voltar atrás, é pra frente que se anda.
O gênio de cão não acredita em destino. Somos predestinados a seguir um caminho na vida. Ao longo, encontramos outras pessoas e, conhecendo-as, mudamos nossas vidas. Não nascemos já sabendo voar. Por mais que se tente, existe algo que nos impede de sair do chão: o medo. Como confiar nos ventos que sopram nos diversos quadrantes sem eira nem beira? Para guindar-se ao alto do céu, você tem que abrir as asas e perceber que pode voar.
O gênio de cão se desenvolve à medida que se enraíza num mundo considerado hostil. Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma para o gênio se proteger de ou contra alguém e afastar o perigo. Resguardando-se de quem o magoa, despreza e decepciona. Portanto, começa por atacar antes, ataca para se defender.
A TPM é o combustível para as mulheres. Acorda tão de mau-humor que é melhor não falar com ela antes do café da manhã; pior, se encostar nela em busca do amor primitivo, tão natural ao alvorecer, ela o rechaçará. Um ódio vindo de outra encarnação que repercute até hoje, à semelhança das ondas de som.
O gênio de cão já nasce no prejuízo. Acha que está sempre por baixo, tem que lutar por um lugar ao sol. Alimentando uma ansiedade que é a própria agonia em desabalada carreira no encalço de realizar um desejo que sabe de antemão ser missão impossível. Com tamanha veemência que vira obsessão e o deixa aflito. A impaciência se instala e o intranqüiliza, ingressando-o num estado psicoafetivo de dar pena em se tratando de uma alma impulsiva. Um aviso do perigo que se revela impreciso no espírito das idéias. Não depende somente de você que a bênção chegue às suas mãos, mas aguardar indefeso e frágil não combina com a têmpera de cão.
É angústia na certa. O teto rebaixa e as paredes se comprimem. O tempo custa a passar. Que tédio esbarrar na estreiteza de como os seres foram construídos. Mas se já nascemos carentes, só pode faltar peça nesse quebra-cabeça por montar. Um vazio a ser preenchido. Que atormenta e faz sofrer.
Mas o gênio de cão se acomoda na inquietude e inventa inúmeros subterfúgios para escapar da possibilidade de conhecer a si próprio na finitude de suas limitações, obstruindo sua trajetória. O ser humano é livre para pecar. O futuro acena com a possibilidade de fracasso, sofrimento e, no limite, a morte. No centro dessas incertezas, sobrevém o medo de não conseguir conquistar o ser amado. Não há quem agüente o gênio de cão!
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